24 outubro, 2012

48. Uma estrada segundo Qianfeng

Um monge perguntou ao venerável Qianfeng, “‘Bhagavans[27] das dez direções, uma estrada para o portão do Nirvana’. Não descobri; em que lugar está a extremidade da estrada?” Feng pegou e levantou seu cajado, desenhou uma única linha e disse, “Está aí dentro”.

Depois o monge pediu para Yunmen desenvolver isso. Men pegou e levantou um leque e disse, “Este leque salta e sobe até o 33o. Céu, acertando a narina da divindade Sakra[28]. Ao acertar uma tacada na carpa do mar do leste, a chuva parece uma bacia derramada”.

Wumen diz:

Um homem vai às profundezas do oceano, revolve a areia e levanta poeira. Um homem sobe o mais alto pico e arremete ondas brancas pelo céu. Segurando firme ou soltando, cada um estende uma mão para sustentar a escola. Ambos são poderosos e parecem colidir na corrida. Nenhuma pessoa sobre a terra pode responder diretamente a essência do assunto. Ao se observar com o olho correto, os dois grandes anciãos não sabem onde está a extremidade da estrada.

A canção diz:

Sem dar o primeiro passo, já chegou.
Sem começar a mover a língua, já falou.
Apesar de mostrado diretamente, o ponto existe antes da mostra.
Mas deve-se notar que acima há uma chave.



Do alto, os Budas e os patriarcas concederam e mostraram a boa sorte, certificando-se da junção dos casos como eram originalmente, sem adicionar nada. Tiraram o couro cabeludo, descobriram seus cérebros e expuseram seus globos oculares. É essencial que todas as pessoas concordem em assumir a responsabilidade, sem depender da busca do outro. Se seguir essa prescrição, será um estudante superior e ao ouvir qualquer manifestação, compreenderá o seu ponto. Conhecendo claramente o não-portão poderá entrar pela porta, sem degraus poderá subir. Sem braços, mede a fronteira, ignorando o oficial da fronteira. Como se pode não ver o dito de Xuansha, “O portão da liberação é o não-portão, não-intenção é a intenção da pessoa no Caminho”? Também Baiyun disse, “Aqueles que conhecem os discursos perfeitamente, todavia o que podem fazer? Sua passagem não está completa”. Falar assim também não é misturar argila vermelha com leite de vaca? Se passar pela fronteira sem portões, poderá fazer Wumen de bobo. Se não passar pela fronteira sem portões, então também falhará consigo mesmo. Assim é dito, é fácil alvorecer a mente do Nirvana, é difícil enxergar a sabedoria das diferenças claramente. Se enxergar a sabedoria das diferenças claramente, sua família, seu país e você mesmo estarão em paz.

Período de mudança para a era Shaoding [1228], cinco dias antes da divisão do regulamento.

Respeitosamente, Wumen Huikai, bhiksu[29], sucessor de oitava geração de Yangqi.



Fim do livro "A fronteira sem portões".



[27] Em sânscrito, Bhagavan significa alguém dotado dos seis atributos: renúncia, tesouro infinito, força, glória, esplendor e sabedoria. É um termo usado para designar santos, deidades e encarnações divinas.

[28] A divindade Sakra rege o 33o. Céu, o mais alto ainda em contato com a Terra, e é considerado protetor do budismo. De vida muito longa, contudo é mortal.

[29] Em sânscrito, monge budista totalmente ordenado. O termo bhiksu pode ser traduzido como “aquele que vive de esmolas”.

25 setembro, 2012

A fronteira sem portões --- 47

47. As três cruciais de Duoshuai

O venerável Duoshuai Yue estabeleceu três questões cruciais para seus discípulos: Remover a grama e entrar na obscuridade são apenas esquemas para ver sua natureza. Agora, rápido, em que lugar está a natureza da pessoa superior? Consciência da própria natureza é um método para sair do nascimento e da morte. Quando a luz dos olhos vai desaparecendo com o tempo, como sair do nascimento? Sair do nascimento e da morte é saber para que lugar irá. Quando os quatro elementos se separarem, para onde irão?

Wumen diz:
Se puder emitir essas três palavras de mudança (respondendo às três questões), então pode ser um mestre em qualquer lugar e encontrar os patriarcas da escola. Caso não o consiga, refeições humildes satisfazem, mastigando bem não se passa fome.

A canção diz:
Um pensamento observa todos os incomensuráveis kalpas,
Os incomensuráveis kalpas estão no agora.
Se em um pensamento observar através do agora,
Verá através do homem que tem por base o através do agora.

14 setembro, 2012

Pensamento sobre a vida.

Estamos em estado liquido, e para evaporarmos, basta um sol mais forte. Assim, vamos, ou nos transformamos.
Os antigos dizem: que quando um ser bom faz a passagem, no outro dia chove. Os cristãos acreditam na ressurreição no ultimo dia; os espíritas crêem no retorno, ou seja, todas as religiões têm suas respostas para frustração existencial. Mas a verdade, que o ser humano nunca esta preparado para enfrentar esta situação. Nascemos e crescemos bombardeados com a idéia de sermos eternos.
Vivemos terrestremente com o conceito de infinitude, logo, na primeira demonstração de fragilidade que a vida apresenta ao ser, o homem, deixa de ser homem, e se coisifica inconscientemente.
Neste declínio de sentido, toda forma unitária se perde, ao mesmo tempo neste momento a busca pelo Ser Supremo é mais expressiva, o ser busca compreender a transcendencialidade que foge de suas mãos, anseia por respostas e procura sentido.
Então percebe que: o campo é colorido, porque as flores não fazem acepções como os homens. Elas com sua consciência de transformação cultivam a igualdade.
Sendo assim, se apropriam do bem da amizade, certas que só levam deste espaço de moléculas a fotografia temporal. Destarte, na sapiência da natureza as formigas andam lado a lado, os lobos em suas alcatéias, as baleias em família e os cães em matilha.
Mas os homens inovam com: MSN e facebook, motivados pela sua racionalidade se distanciam, anulando uns aos outros em nome da virtualidade.
  Contudo, busca-se diante da solitária morte dividir as relíquias da mesma. Ilusória tentativa, apegando ao invisível, não percebe os dois momentos onde a subjetividade do ser é justa: no nascimento e na morte. Na primeira instancia o feto ao ver o mundo sente a primeira vez a dor da solidão.  Já na morte, esta solidão chega a seu ápice paradoxal, onde a maturidade enxerga a mesma como uma oportunidade espiritual.
Agora, a solidão se abre para uma dicotomia inata do ser e existencial, mostrando a ele que ele é, e não é esta e, não esta; é coletivo, mas ao mesmo tempo é individuo. Esta ambigüidade humana por muitas vezes é fundamental para diferenciá-lo dos demais seres vivos.
No entanto, ele agora consciente que é um ser para morte* , busca dentro de sua corporeidade transcender esta realidade. Por muitas vezes inconscientemente o homem tenta retardar o contacto com esta realidade, criando subterfúgios para que sua fragilidade fique camuflada aos sentidos internos.
Na necessidade de dar sentido à sua existência o ser se fraga inventor, cria e re-cria sua realidade. Através do seu corpo experimenta a possibilidade de ser criador.
Este movimento que o ser humano encontrou para frustrar sua frustração é algo milenar que em nossa era ganha maiores dimensões, pois, o homem modificou de tal forma seu eco sistema que futuras gerações sentiram a escassez devido o uso abusivo dos recursos nos dias de hoje.
O problema é que o mesmo solo que o homem estupra diariamente buscando recursos para seus objetivos, é o mesmo donde tira seu sustento natural e essencial.
O ego do ser faz com que ele não perceba as fontes fundamentais da vida. a frieza espiritual nos últimos anos cresce significativamente, e dados apontam que diversos fatores contribuem para esta realidade.
Podemos aqui ressaltar algumas hipóteses. A falta de contacto com a natureza na sua forma virgem faz com que o homem não reflita sobre o tempo na sua dinâmica cronológica e as suas fontes criatórias.
Desta forma o ser foi se acostumando com o produto acabado, não mais se vislumbrando com a matéria prima. Outro atenuante é o estagio carnívoro que atinge picos alarmantes nesta era, o humano deixou a muito tempo de ser parceiro do animal, para ser seu concorrente, tornando-se o predador mais perigoso a habitar este planeta, pois, ele é capaz de destruir qualquer biodiversidade em nome de seu próprio objetivo.            
Não quero rotular esta atitude como egoísta, parece razoável entendermos a perca da sensibilidade e seus atenuantes. Cotidianamente somos entorpecidos de informação, e todo instante nosso corpo recebe cargas excessivas de periódicos. Este fenômeno faz com o ser esteja habituado com estímulos simultâneos, desta forma não mais achamos incríveis as belezas naturais, sua forma de reprodução  e sua auto-defesa natural.
Nos nossos dias a grande massa rotula “piegas” a reflexão sobre a vida e a morte. Ao mesmo tempo, a sociedade rotulando como entretenimento se paralisa frente a televisão e discute em família sobre quem vencerá o B.B.B.
Na Grécia antiga refletir sobre questões existenciais eram algo rotineiros, ou seja, estas questões estavam no seio da sociedade convidando a comunidade a mergulhar com profundidade na metafísica. Parece-nos que o homem moderno perdeu a coragem de pensar, se acostumando cada vez mais com o produto acabado.
Atualmente realçamos a idéia do material, mas matamos nosso lado espiritual, desta forma não notamos a beleza da vida, seu ciclo e suas transformações.         


_____________________________________-
*HEIDEGGER, M. Ser e tempo (1927), Partes I e II, [tradução de Marcia Sá
Cavalcante Schuback]. Petrópolis: Vozes, 2002.

28 agosto, 2012

A fronteira sem portões -- 46

46. Dê um passo além do topo do poste

O venerável Shishuang perguntou: “Como dar um passo além do topo do poste de 100 chi[*] de altura?” Um antigo virtuoso também disse: “Uma pessoa senta no topo do poste de 100 chi e o tem como base. Mesmo se for assim, não terá entrado verdadeiramente. Precisa dar um passo além do topo do poste de 100 chi para manifestar seu corpo por completo nas dez direções do mundo.”

Wumen diz:
Se puder dar um passo além, se puder ultrapassar o corpo, em vez de suspeito, em que lugar não será chamado mestre? Mas mesmo se for assim, apenas diga, como dar um passo além do topo do poste de 100 chi? Ah!

A canção diz:

Cegando o olho do portão da coroa,
Apegado em erro às marcas na balança,
Mesmo capaz de sacrificar seu corpo,
Um cego guiando a multidão de cegos.

[*]Chi é uma unidade de medida que equivale a um terço de metro.

31 julho, 2012

A fronteira sem portões --- 45

45. Quem é ele?

Zu, o mestre da prática da Montanha Leste, disse, “Sakya e Maitreya são seus servos. Apenas diga, quem é ele?”

Wumen diz:
Se para dentro puder ver claramente quem é ele, será como, por exemplo, encontrar seu pai por acaso nas movimentadas ruas da cidade: não precisa perguntar a outras pessoas para saber se é ele ou não.

A canção diz:
Não puxe o arco dele,
Não cavalgue o cavalo dele,
Não julgue as falhas dele,
Não se encarregue dos negócios dele.

02 julho, 2012

Domingo no Barreiro

fotos por André Almeida

A fronteira sem portões --- 44

44. O cajado de Baijiao

O venerável Baijiao disse à assembleia, “Se você tiver um cajado, eu lhe darei um cajado. Se você não tem um cajado, eu lhe tomarei o cajado”.

Wumen diz:
Ele ajuda a atravessar um rio com a ponte quebrada. Ele acompanha ao voltar à vila em uma noite sem Lua. Se chamá-lo de cajado, irá para o inferno como uma flecha.

A canção diz:
Todas as profundezas e superfícies,
Todas estão sob seu controle.
Sustenta o céu e apoia a terra,
Por toda parte move os ventos da escola.

20 junho, 2012

Pensamento sobre a contemporreniedade




O maior capricho é grotesco aos olhos dos cegos, dizem que veêm, mas só enxergam o que sua vaidade lhes diz.
Doravante me faço inútil neste momento, pois quem julga pelo próprio julgamento é ignorante, pois o outro se constrói a partir de seu próprio olhar. No fim todo julgamento isolado no conceito individual é injusto, porquanto, a justiça é construída no coletivo.
Junta-se conceitos de varias óticas e cria-se uma só conduta, mas ainda acreditando ser justo produz injustiça, pois pesado é o fardo que é jogado sobre as vidas que não lhes pertence.
Achando praticar justiça se faz juiz, mas este quem o é? Se não aquele que julga “ser” sobre o “Ser”, produzindo cadeias mais não estas de concreto e aço, cadeias internas. Por sua vez aqueles presos em cadeias externas, estão  presos pelas suas consciências. Destarte nós, estando “livre”,  ainda sim somos presos, e produtores de cadeias internas.
Acreditando ser justo, publicamos editais, onde salta aos olhos conceitos da constituição. Pedindo paz, respeito, igualdade vamos as ruas, clamando em branda voz o direito humano, mas ainda assassinamos com a caneta, de norte ao sul do globo terrestre. Comendo os morrinhosos bezerrinhos criados em caixa, torcendo a galinha, cuspindo nos mendigos, matando crianças africanas,jorrando agua pela calçada desperdiçamos a energia vital.
Somos seres consumidores das dores para se ter afano, alento, conforto, mas em justa medida julgamos o nosso não julgamento, desviando verbas, falando educadamente, matamos Jesus, o judaísmo, o budismo, o hinduísmo, as religiões em nome da ciência que nos mata, nos esfria, nos cega diante do conhecimento, pois conhecemos para não conhecer a ética humana a moral natural, conhecemos para julgar o não julgamento de nós mesmos.
Somos apenas humanos. Humanos morrendo.


por: Guido Campos

05 junho, 2012

A fronteira sem portões --- 43

43. O pente de bambu de Shoushan

O venerável Shoushan pegou um pente de bambu e mostrou-o à assembléia, dizendo, “Vocês pessoas de várias posições, se chamarem isto de pente de bambu ferem a regra, se não chamarem isto de pente de bambu viram as costas para a regra. Vocês pessoas apenas digam, de que chamar isto?”

Wumen diz: Chamar de pente de bambu fere a regra, não chamar de pente de bambu vira as costas para a regra. Não se pode ter palavras, não se pode não ter palavras. Diga logo, diga logo!

A canção diz:
Pegando e levantando o pente de bambu,
Ao matar fez vidas serem salvas.
Virar as costas e ferir se misturam,
Budas e patriarcas imploram por suas vidas.

04 maio, 2012

A fronteira sem portões --- 42

42. A mulher sai do samadhi

Uma vez, no tempo do Buda, Manjusri chegou ao local de encontro dos Budas, e todos tinham voltado a seus lugares de origem. Havia apenas uma mulher, sentada próxima ao trono do Buda Sakyamuny, absorta em samadhi. Manjusri então perguntou ao puro Buda, “Por que essa mulher pode se sentar perto do Buda e eu não?”.

Buda disse a Manjusri, “Faça essa mulher sair do samadhi e pergunte-a pessoalmente”.

Manjusri andou três vezes ao redor da mulher, estalou os dedos uma vez, e levantou-a com as mãos até o Céu da Pureza. Exauriu suas forças espirituais e ainda assim não pôde fazê-la sair. Sakyamuny disse, “Centenas de milhares de Manjusris não poderiam fazer essa mulher sair do samadhi. Abaixo, em um lugar além de tantos territórios quantos grãos de areia de 12 centenas de milhões de rios, está o bodhisattva* Wangming. Ele pode fazer essa mulher sair do samadhi”. Neste momento, a grande pessoa de Wangming surgiu da terra e prostrou-se perante o Buda. O Buda lhe ordenou que fosse até a mulher e estalasse os dedos. Assim, a mulher saiu do samadhi.

Wumen diz:

O velho Sakyamuny fez uma cena dramática, que não fez sentido para os pouco esclarecidos. Apenas diga, Manjusri era professor de sete Budas, por que não conseguiu fazer a mulher sair do samadhi? Wangming era um bodhisattva de posição iniciante, como sua ação pôde fazê-la sair? Se dentro puder ver intimamente, nas atividades e negócios mais ocupados e apressados terá o grande samadhi de Naga.

A canção diz:
Fazê-la sair, não fazê-la sair,
Em uma vala, você está livre.
Cabeça de deus, face de demônio,
Na derrota e na falha, apropriadamente distinto e admirável.

* Bodhisattva, do sânscrito bodhi, iluminado, e sattva, ser, é um título que comumente designa pessoas com um alto nível de iluminação que se dedicam a ajudar os outros a atingirem a budeidade. Os próprios bodhisattvas ainda não atingiram o estado de Buda, mas estão avançados no Caminho.

28 abril, 2012


Já não posso te ver
Nem preciso te ouvir
Te sentir é uma quimera
Teu gosto
Teu cheiro
São memória
Agora
Só me resta te agir

15 abril, 2012

10 abril, 2012

Pedaços

Pedaços

Cortei em pedaços pequenos o pedaço de papel, e após observá-lo por um tempo conclui: este sou eu.


Sou de varias formas, e de mil maneiras.

Retangular, redondo as vezes quadrado.

Sou concreto, sou abstrato.


Uma incógnita, um colapso.

Sou teimoso, como o pedacinho que não sai do chão.

Destemido, flutuante como no vento, com os seus gemidos.


Sou seco, e eficaz.

Sujo e limpo.

Sou resma em pedaços das poesias e seus anais.


Cortei em pedaços pequenos o pedaço de papel, e esparramei pela casa toda, após um tempo comecei a recolher e conclui: eis eu ali.


Jogado pelos vários cantos.

Esparramado em varias direções.

Era eu ali perdido, partido, ferido.


Em mil pedaços, de mil maneiras.

Fui para fogueira, e o fogo me consumiu.

Mas aquecido morri.


Pois cada partícula era eu, não querendo me juntar, ser um todo, ser único, ter personalidade.

Enfim, me resumi nas partes tristes de minha historia para não contemplar a folha toda de almaço.



13 março, 2012

41. Dharma[1] tranquiliza a mente

Dharma estava sentado de frente para a parede. O segundo patriarca estava na neve, decepou o próprio braço, e disse, “A mente deste discípulo ainda não se aquietou. Imploro ao professor que tranquilize minha mente”. Ma disse, “Traga sua mente aqui e eu a tranquilizarei para você”. O patriarca disse, “Minha procura pela mente terminou, mas não posso obtê-la”. Ma disse, “Terminei de tranquilizar sua mente para você”.

Wumen diz:
O estrangeiro com vão nos dentes navegou dezenas de milhares de léguas até aqui para um propósito especial. Pode-se dizer que é como levantar ondas em tempo sem vento. Finalmente encontrou um homem particular do portão, mas lhe faltava uma raiz — um membro. Ora, Xiesanlang, o segundo patriarca, não sabia quatro palavras.

A canção diz:

Veio do oeste e com o dedo apontou diretamente,
Por causa desse assunto, começou a junção.
O barulho importuno dos monastérios,
A causa de chegar até aqui é você.

[1]Bodhidharma, patriarca da escola Chan.

09 março, 2012


Não se pode parar


A poesia pinta


E eu não posso pintar





Não se pode esperar


Mais um ponto aponta


E eu não posso aprontar





Não se pode emperrar


Nosso peito aperta


E eu não posso imperar





Nosso tempo, há tempos,


Ninguém pode parar

08 março, 2012

Sob o céu,

ninguém consegue enxergar
e ninguém consegue compreender
a circunstância da subtração.
Quando um homem superior domina a circunstância,
terá firmeza, apesar de dificuldade;
quando um homem inferior domina a circunstância,
terá então uma vida reduzida.

O céu e a terra, os dez mil seres e os homens individualmente estão, constante e interminavelmente, subtraindo energia uns dos outros, mas poucos são os que conseguem enxergar ou compreender essa circunstância. Por isso, o Taoísmo chama esse roubo de “subtração oculta”.

Quando a pessoa se empenha num determinado projeto de vida e obtém retorno pífio para a sua dedicação, raramente compreende que passou por uma circunstância de subtração no seu destino e foi furtada pelos dez mil seres em sua iniciativa. Essa falta de compreensão da circunstância da subtração deve-se à ignorância que impede o ser humano de enxergar os roubos que ocorrem permanentemente no mundo. Assim, a pessoa não consegue entender como sua energia foi subtraída, por que foi furtada e nem mesmo atinar para quem ou o que subtraiu sua força. O ser humano não consegue perceber como esses momentos acontecem, quando acontecem e por que acontecem. Mas quem compreende o ciclo torna-se capaz de trazer para a sua vida, dependendo de como aborda a oportunidade, tanto a boa fortuna quanto os infortúnios. Esse pode ser o Homem Superior ou o homem inferior.

O destino é feito de claridade e obscuridade, de ondas muito altas que chegam como tsunamis, ou chegam mais calmas e baixas, como se viessem acariciar a praia. Para tomar essas circunstâncias em seu benefício e transformá-las em boa fortuna, é preciso ser o Homem Superior. Este terá firmeza para enfrentar, com coragem, as dificuldades que se apresentem para ele em momentos cruciais da sua vida, ou no destino de uma coletividade.

Firmeza é a solidez que não abandona o Homem Superior, mesmo em momentos de adversidades. Nos momentos serenos, tanto quanto nos momentos de crise, ele consegue manter o equilíbrio emocional, o que lhe garante alcançar seus objetivos dentro de uma conduta de retidão. Por isso, o Homem Superior consegue tomar a circunstância ou destino do céu e da terra como seu próprio destino, apesar dos obstáculos e impedimentos que possa encontrar. De modo inverso, o homem inferior[1], por não possuir a retidão, quando reconhece com propriedade a circunstância, utiliza o ego para criar ele mesmo as oportunidades e dominar a situação em proveito de projetos pessoais. Quando isso acontece, o resultado que encontra é apenas o gasto excessivo de energia desperdiçada em função da sua engenhosidade e da ansiedade gerada pela expectativa do resultado. Essa energia esbanjada será levada, então, pela circunstância e terminará reduzindo a sua vida.

[1] Expressão utilizada nas mensagens do Yì Jīng. Representa a pessoa mesquinha, ignorante e sem retidão.

Wu Jyh Cherng, Yīng Fú Jīng: tratado sobre a união oculta: Huángdi, o Imperador Amarelo. Rio de Janeiro: Mauad, 2008

07 fevereiro, 2012

A fronteira sem portões --- 40

40. Derrubando o pote de água

O venerável Weishan estava começando a viver na assembleia de Baizhang e servia como chefe de cozinha. Como Baizhang ia escolher um mestre para o monastério Grande Wei, requisitou que as palavras do primeiro assento fossem comparadas às da população inferior, para escolher quem seria aprovado. Baizhang então pegou o pote de água, colocou-o no chão, e formulou uma pergunta, “Vocês não podem chamar isso de pote de água. De que chamam isso?”. Aquele do primeiro assento então disse, “Não se pode chamar de toco de árvore”. Baizhang também perguntou a Shan. Shan então derrubou o pote de água e saiu. Baizhang riu e disse, “O primeiro assento perdeu para o irmão Shan”. E assim Shan foi mandado para presidir Wei.

Wumen diz:

Weishan provou-se corajoso, disputando e pulando, mas não pôde ir além do círculo de Baizhang. Ao se examinar isso no futuro, será pesado, não será leve. Por que tirar a bandana de cozinheiro da cabeça e levantar a pesada canga de ferro?

A canção diz:

Ele jogou fora o coador de bambu e a concha de madeira,
Quando de uma vez cortou o bloqueio do círculo.
A pesada barreira de Baizhang não o impediu,
Chutou com a ponta dos pés e fez aparecer muitos Budas.

OK Go - Needing/Getting - Official Video

05 fevereiro, 2012

É DE VERDADE (cantiga do tempo)

A gente, no verão,


É de ver.


E a gente, no inverno,


É de inverter:


De inventar de verdade.


De verter... de ventar...


Sem dever, a primavera verá,


No devir, o outono de outro não.


Outro, então, há de vir,


No verão


Que a gente vê.

06 janeiro, 2012

A fronteira sem portões --- 39

39. Yunmen e as palavras degeneradas

Um monge perguntava a Yunmen, “A luz brilhante silenciosa ilumina tudo, rios, areias...”. A sentença não havia terminado quando Men rapidamente disse, “Essas não são as palavras do excelente escritor Zhangzhuo?”.
O monge disse, “Sim”.
Men disse, “Também são palavras degeneradas”.
Mais tarde, Sixin pegou isto e disse, “Apenas diga, nesse caso em que ponto as palavras do monge são degeneradas?”.

Wumen diz:

Se para dentro vir como Yunmen usa o perigo solitário da causa das palavras degeneradas deste monge, pode ser professor de pessoas e deuses. Se ainda não tiver isso claro, não pode salvar a si mesmo.

A canção diz:

Um anzol na correnteza
Pega quem cobiça a isca.
Assim que a boca se abre,
Sua vida já está perdida.