25 setembro, 2012

A fronteira sem portões --- 47

47. As três cruciais de Duoshuai

O venerável Duoshuai Yue estabeleceu três questões cruciais para seus discípulos: Remover a grama e entrar na obscuridade são apenas esquemas para ver sua natureza. Agora, rápido, em que lugar está a natureza da pessoa superior? Consciência da própria natureza é um método para sair do nascimento e da morte. Quando a luz dos olhos vai desaparecendo com o tempo, como sair do nascimento? Sair do nascimento e da morte é saber para que lugar irá. Quando os quatro elementos se separarem, para onde irão?

Wumen diz:
Se puder emitir essas três palavras de mudança (respondendo às três questões), então pode ser um mestre em qualquer lugar e encontrar os patriarcas da escola. Caso não o consiga, refeições humildes satisfazem, mastigando bem não se passa fome.

A canção diz:
Um pensamento observa todos os incomensuráveis kalpas,
Os incomensuráveis kalpas estão no agora.
Se em um pensamento observar através do agora,
Verá através do homem que tem por base o através do agora.

14 setembro, 2012

Pensamento sobre a vida.

Estamos em estado liquido, e para evaporarmos, basta um sol mais forte. Assim, vamos, ou nos transformamos.
Os antigos dizem: que quando um ser bom faz a passagem, no outro dia chove. Os cristãos acreditam na ressurreição no ultimo dia; os espíritas crêem no retorno, ou seja, todas as religiões têm suas respostas para frustração existencial. Mas a verdade, que o ser humano nunca esta preparado para enfrentar esta situação. Nascemos e crescemos bombardeados com a idéia de sermos eternos.
Vivemos terrestremente com o conceito de infinitude, logo, na primeira demonstração de fragilidade que a vida apresenta ao ser, o homem, deixa de ser homem, e se coisifica inconscientemente.
Neste declínio de sentido, toda forma unitária se perde, ao mesmo tempo neste momento a busca pelo Ser Supremo é mais expressiva, o ser busca compreender a transcendencialidade que foge de suas mãos, anseia por respostas e procura sentido.
Então percebe que: o campo é colorido, porque as flores não fazem acepções como os homens. Elas com sua consciência de transformação cultivam a igualdade.
Sendo assim, se apropriam do bem da amizade, certas que só levam deste espaço de moléculas a fotografia temporal. Destarte, na sapiência da natureza as formigas andam lado a lado, os lobos em suas alcatéias, as baleias em família e os cães em matilha.
Mas os homens inovam com: MSN e facebook, motivados pela sua racionalidade se distanciam, anulando uns aos outros em nome da virtualidade.
  Contudo, busca-se diante da solitária morte dividir as relíquias da mesma. Ilusória tentativa, apegando ao invisível, não percebe os dois momentos onde a subjetividade do ser é justa: no nascimento e na morte. Na primeira instancia o feto ao ver o mundo sente a primeira vez a dor da solidão.  Já na morte, esta solidão chega a seu ápice paradoxal, onde a maturidade enxerga a mesma como uma oportunidade espiritual.
Agora, a solidão se abre para uma dicotomia inata do ser e existencial, mostrando a ele que ele é, e não é esta e, não esta; é coletivo, mas ao mesmo tempo é individuo. Esta ambigüidade humana por muitas vezes é fundamental para diferenciá-lo dos demais seres vivos.
No entanto, ele agora consciente que é um ser para morte* , busca dentro de sua corporeidade transcender esta realidade. Por muitas vezes inconscientemente o homem tenta retardar o contacto com esta realidade, criando subterfúgios para que sua fragilidade fique camuflada aos sentidos internos.
Na necessidade de dar sentido à sua existência o ser se fraga inventor, cria e re-cria sua realidade. Através do seu corpo experimenta a possibilidade de ser criador.
Este movimento que o ser humano encontrou para frustrar sua frustração é algo milenar que em nossa era ganha maiores dimensões, pois, o homem modificou de tal forma seu eco sistema que futuras gerações sentiram a escassez devido o uso abusivo dos recursos nos dias de hoje.
O problema é que o mesmo solo que o homem estupra diariamente buscando recursos para seus objetivos, é o mesmo donde tira seu sustento natural e essencial.
O ego do ser faz com que ele não perceba as fontes fundamentais da vida. a frieza espiritual nos últimos anos cresce significativamente, e dados apontam que diversos fatores contribuem para esta realidade.
Podemos aqui ressaltar algumas hipóteses. A falta de contacto com a natureza na sua forma virgem faz com que o homem não reflita sobre o tempo na sua dinâmica cronológica e as suas fontes criatórias.
Desta forma o ser foi se acostumando com o produto acabado, não mais se vislumbrando com a matéria prima. Outro atenuante é o estagio carnívoro que atinge picos alarmantes nesta era, o humano deixou a muito tempo de ser parceiro do animal, para ser seu concorrente, tornando-se o predador mais perigoso a habitar este planeta, pois, ele é capaz de destruir qualquer biodiversidade em nome de seu próprio objetivo.            
Não quero rotular esta atitude como egoísta, parece razoável entendermos a perca da sensibilidade e seus atenuantes. Cotidianamente somos entorpecidos de informação, e todo instante nosso corpo recebe cargas excessivas de periódicos. Este fenômeno faz com o ser esteja habituado com estímulos simultâneos, desta forma não mais achamos incríveis as belezas naturais, sua forma de reprodução  e sua auto-defesa natural.
Nos nossos dias a grande massa rotula “piegas” a reflexão sobre a vida e a morte. Ao mesmo tempo, a sociedade rotulando como entretenimento se paralisa frente a televisão e discute em família sobre quem vencerá o B.B.B.
Na Grécia antiga refletir sobre questões existenciais eram algo rotineiros, ou seja, estas questões estavam no seio da sociedade convidando a comunidade a mergulhar com profundidade na metafísica. Parece-nos que o homem moderno perdeu a coragem de pensar, se acostumando cada vez mais com o produto acabado.
Atualmente realçamos a idéia do material, mas matamos nosso lado espiritual, desta forma não notamos a beleza da vida, seu ciclo e suas transformações.         


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*HEIDEGGER, M. Ser e tempo (1927), Partes I e II, [tradução de Marcia Sá
Cavalcante Schuback]. Petrópolis: Vozes, 2002.