27 outubro, 2009

Ching-Yun Hu toca Étude No. 10, "Der Zauberlehrling", de Ligeti



Der Zauberlehrling traduz-se como "Aprendiz de feiticeiro".
A peça é parte de uma série de oito estudos para piano composta entre 1988 e 1993.
György Ligeti (1923-2006) foi um compositor húngaro.
Ching-Yun Hu é pianista taiwanesa.

A fronteira sem portões --- 13

Deshan leva sua tigela

Um dia Deshan foi à sala de baixo levando sua tigela. Xuefeng o viu e perguntou, “Camarada, o sino não tocou, o peixe não soou, aonde vai com sua tigela?”. Shan voltou-se e seguiu aos dormitórios.
Feng mencionou isso a Yantou, que comentou, “Deshan é renomado, mas ainda não encontrou a sentença última”. Shan ouviu falar disso e pediu para seu assistente chamar Yantou, e então perguntou, “Então você não concorda com o velho monge?”. Yantou sussurrou o que queria dizer e Shan não falou nada, mas no dia seguinte subiu ao seu assento e o fruto que partilhou foi bem diferente do usual. Yantou foi até a frente do salão dos monges, batendo palmas e rindo, e disse, “Que ocasião feliz, o velho camarada encontrou a sentença última! De agora em diante, nenhuma pessoa sob o céu pode superá-lo”.

Wumen diz:

Quanto à sentença última, nem Deshan nem Yantou sequer sonharam com ela. Examinando bem, posteriormente, percebe-se que são como bonecos em uma estante!

A canção diz:

Se conhecer a primeira sentença,
Então encontra a sentença última;
A primeira e a última,
Não são uma mesma sentença?

19 outubro, 2009

Re: Mais cult do que roots [5]

Maurício,

em momento algum eu quis ser maldoso ou ofender pessoalmente você ou teus colegas de trabalho comerciantes ou donos de sebo. Na verdade nem me ocorreu incluir essa categoria, por assim dizer, no comentário.
Estava falando dos colecionadores, como você consequentemente é, mas como eu também sou (inclusive não tenho nenhum vinil de heavy metal, nem mesmo o primeiro do Black Sabbath) e outros tantos amigos que conheço são. Inclusive não me excluo dessa "elite" que critiquei. Se você se sentiu ofendido peço desculpas aqui no blog pois, de coração, essa não era nem de longe a intensão. Inclusive pela falta de intimidade que temos, seria ignorância minha te atacar pessoalmente afim de te ofender da forma como sinto que voc6e ficou ofendido.

Conversando com um MC de HipHop daqui, fiquei sabendo que ele havia visitado essa fábrica de vinil ai na baixada fluminense, que agora me foge o nome, para acertar os detalhes da produção de seu disco. Papo vai, papo vem, alguma cabeça (não sei se o dono) contou pra ele que quem mantinha a fábrica funcionando, até aquele momento, eram as bandas e selos independentes de heavy metal nacional que nunca cessaram a produção. E isso pouca gente observa.

O que coloquei foi uma perspectiva a mais (se está certa ou errada, quem ler julgará), e não uma análise política ou social.
Mas ainda sim, não discordo de nada que escrevi sobre o fato de que coleção de vinil é sim uma atividade elitista, e que essa elite, que inclusive faço parte, mesmo que em níveis mais sutis em alguns e mais exagerados em outros é: demagoga no discurso, egoista, e hipócrita em não reconhecer isso. Posso estar exagerando na generalização do comentário, mas pelo que observo acredito sim que que isso seja fato.
Isso não é um ataque, mas sim uma opinião e possivelmente uma auto-critica.

Paz meu velho...
e não se cale não.

Juninho

Re: Mais cult do que roots [4]

Saulo,

O que mais me encuca e me intriga dentre as análises socioeconômicas que seu post gerou no Jecabit é a afirmação do Juninho de que os colecionadores, fabricantes e vendedores de vinil são parte da elite e, como tal, são egoístas, mesquinhos e demagógicos. [...] "demagógico" é em geral o atributo de um discurso ou de uma ação (como uma lei), não de pessoas. "Egoísta" e "mesquinho" já são palavras por demais subjetivas e emotivas. Fica difícil saber de que características mais exatamente das elites ele está falando. O que salta aos olhos é o tom ressentido do comentário. Pra mim, particularmente, egoísmo e mesquinhez são atributos essenciais, daquilo que os religiosos chamariam de alma ou espírito individual, e pra mim indicam falta de caráter. O que já leva o debate pra outra seara, muito distante da política ou da economia. Num sistema perverso e malvado, existem classes que são agentes da opressão, ou dela se beneficiam, ou colaboram para a legitimação ideológica do sistema. Mas acusar uma classe social de ser perversa ou malvada é manobra apelativa típica da liderança sindical mais vulgar, diante da platéia mais ignorante possível. A partir dum certo ponto estamos falando de pessoas, não de abstrações. Diferentemente de "pessoas que ganham entre 5 e 20 salários-mínimos" os colecionadores de vinil, por exemplo, constituem um perfil bem mais tangível, são pessoas bem próximas de vocês.

O tipo de discurso do Juninho sempre leva a isso: um sujeito é encaixotado dentro de uma generalização ofensiva, fica puto, e a troca de ideias morre. Por que eu, que sou dono de um sebo, gastaria meu tempo pra debater com um cara que me trata, e aos meus colegas de profissão, de maneira tão desrespeitosa? Porque conheço o Saulo desde que tenho 15 anos, e com ele já me diverti à beça no passado, só por isso. Esse tipo discurso raivoso fica até muito bonito em artistas jovens, cuja genialidade se expressa com a iconoclastia típica de quem está para criar os paradigmas de amanhã. É o caso do Juninho? Espero que sim.

No sebo que administro, estava outro dia discutindo o sistema de cotas com um historiador especializado na Índia (onde nasceu o sistema, quando os ingleses tentaram dar concretude ao sistema de castas, que existia de fato mas não como realidade jurídica). Ele disse num momento que existia um sistema de cotas para brancos nos concursos públicos. Minha resposta foi: "não confunda as coisas. Mesmo que você argumente a existência de estruturas ou fenômenos sociais que produzem um efeito igual ao que produziria um sistema de cotas, ISSO NÃO TORNA VERDADEIRA a afirmação de que existe um sistema de cotas para brancos no Brasil. Não existe, essa é a verdade."

(Aliás, quando alguém começa a duvidar da possibilidade de se distinguir entre verdades e mentiras, aí é mesmo que a conversa leva um tiro na nuca. Quando alguém tenta uma estratégia tão escrota como essa pra esconder sua falta de argumentos eu não brigo mais. Me calo, pico a mula.)

Para quem gosta de metáforas e frases de efeitos, para quem quer fazer drama, a poesia é um campo mais indicado do que a discussão política.

Maurício

17 outubro, 2009

Re: Mais cult do que roots [3]

Pois é, Juninho, a cena metal é forte e conta com uma legião de seguidores fiéis no Brasil. A banda brasileira mais bem sucedida no mercado da música pop saiu dessa cena... Essa popularidade é compreensível, dadas as condições de vida do país e a temática do heavy metal. O metal também fala de força, uma força para sobreviver em condições adversas. É daí que essa galera tira sua motivação, sua inspiração. Sad but true.

15 outubro, 2009

Re: Mais cult do que roots [2]

Pois é ... acho que é consenso dizer que o vinil, dentro da nossa bolha, é um caprichoso artigo de luxo. Quase uma commoditie.

Só tenho uma perspectiva a acrescentar.
Sebos e colecionadores, amantes de vinil, do bolachão, com seus clássicos do rock'n'roll e pérolas da música "popular" brasileira são logicamente elite. Tanto cultural como economica. E carregam consequentemente consigo varias caracteristicas que todo tipo de elite possui, como hipocrisia, demagogia, egoismo entre outras.
Amam tanto, discutem tanto, supervalorizam tanto, ao ponto de tomarem pra si (mesmo que implicita ou inconscientemente) o título de defensores do vinil.
Mas o interessante é lembrar que a industria nacional de vinil só não encerrou de vez suas atividades, quando outras mídias surgiram e se popularizaram, graças outros apreciadores/produtores de música (e vinil) com discrepante diferença de poder aquisitivo dessa "elite musical". Embora o hip hop tenha sua parcela nisso, o grande mérito é do heavy metal nacional. Trash e fedido.

E quem lembra disso?

14 outubro, 2009

Re: Mais cult do que roots

Saulo,

Concordo contigo. O vinil é artigo, senão de luxo, pelo menos pra classe média. Na verdade, pagar pela música virou um requinte das classes de média pra cima. No mundo digital, literatura, cinema e música estão ao alcance do software adequado.

Mas é bom lembrarmos que na Europa, principalmente, o vinil custa o mesmo que o CD. Bandas cujos integrantes são apreciadores do formato privilegiam mais o bolachão, e às vezes um produto mais bem acabado (com pôster e outros fru-frus) são mais carinhos, mas não muito mais. LPs de bandas novas ou hypes são artigo de luxo no Brasil pelas dificuldades de importação, ou seja, mais por uma peculiariedade da nossa economia ou do nosso sistema jurídico, do que pela característica do produto mesmo.

Se tudo der certo, com o tempo aparecerão mais LPs de bandas e selos brasileiras, e o preço deve cair.

Um abraço,

Maurício

Mais cult do que roots

Após umas palavras rápidas ontem com o camarada Victor Di Lorenzo, do Jecatron Soundsystem, fiquei pensando em quantos conceitos errados se embasa a cena jéca. De qualquer modo, talvez essa total imprecisão e gambiarra conceitual, esse qualquer coisa tá valendo, seja justamente o que distinga e caracterize a cena.

Quando a tal cultura soundsystem começou nos saudosos, otimistas e grilescos anos 60, não havia outra opção para reprodução sonora além do disco (a fita magnética não era tão popular, era mais utilizada em estúdio). Os caras lá na Jamaica montavam seus sistemas com o que lhes era acessível, e mandavam ver. Conforme a dedicação, investiam mais neles, mas o que importava mesmo eram as festas.

Com o desenvolvimento da tecnologia de acesso popular, surgiu uma outra cultura, a dos audiófilos. Trata-se de uma abordagem bem mais técnica, os caras preocupados com a qualidade sonora, buscando caixas, cabos e agulhas de qualidade superior, que conversam sobre os equipamentos disponíveis no mercado e discos raros conseguidos com muito esforço, e até sobre os detalhes técnicos das gravações. O foco aí são os equipamentos e a qualidade do som, além dos discos e das gravações --- cara, que tu achou do sistema com caixas em crossover que a Sony lançou? Ah, perde um pouco dos médios, precisam equilibrar melhor...

Claro que essas abordagens acabam se misturando, a fala seguinte poderia ter sido proferida tanto por um festeiro que monta um soundsystem quanto por um audiófilo colecionador de discos: --- descolei a edição original do single de Caravan of Love, dos Housemartins! [...] Não tá ligado? Foi a única canção deles que atingiu o número 1 da lista de singles britânicos... e, ironicamente, é um cover, do Isley-Jasper-Isley...

Mas o ponto é que hoje o disco de vinil já não é o meio mais comum para gravações sonoras --- pelo contrário, é restrito aos colecionadores que se dispõem a se aventurar por sebos empoeirados em busca de edições raras e obscuras ou aos aficionados que dispõem do cacife necessário para pagar por prensagens novas. Ou seja, virou artigo de luxo, enquanto o mp3 reina como principal e mais popular meio de difusão das gravações no século XXI.

Então, dizer que é roots usar discos de vinil novos e tocadiscos com tecnologia de ponta denota um foco na forma que não leva em consideração o conteúdo, pois a ideia original dos soundsystems jamaicanos não era baseada em equipamentos acessíveis apenas a uma minoria economicamente privilegiada. Pelo contrário, a ideia era mais voltada para a realização de festas a baixo custo, principalmente em bairros pobres, utilizando os equipamentos que estivessem disponíveis. Por acaso na época o disco de vinil era o meio de gravação vendido no comércio de massa; hoje o meio está restrito.

Portanto, cabe mais aí o termo cult para a utilização do vinil do que o termo roots. É mais importante pensar na raiz da ideia, e não no material que era utilizado, pois o material é mais impermanente (está mais sujeito às mudanças do tempo) do que a ideia. Falta levar mais em consideração o ambiente da cena jéca --- algo entre a periferia suburbana e a roça --- e as condições atuais da cena da produção sonora e da indústria cultural mundial ao aplicar ideias de outro ponto do continuum espaço-tempo.

13 outubro, 2009

Jecatron SS convidados pra festa na Babilônia



Jecatron vai discotecar nessa festa no dia 24 com os Georges, e o novo projeto do Dj kabelo com o Juninho do Jecatron...o Riddim. E puta...meo...quem vai colar tbm são os caras do Jurassic SS...de sampa, que resgatam o ska e outras preciosidades dos anos 60 em vinil. Quem cola tbm é o B Negão SS...o cara não precisa nem falar sobre. Grande atração da noite. Agora não to ligado desse projeto novo dele. Num é seletores de frequencia, num é turbo trio. Vamo ve. Quem cola também é o Dada Yute que ainda não conheço..e claro, a TROPA...a aniversariante da noite. porra vlw o convite troopers.