26 março, 2009

Kraftwerk: entre o pop e o erudito, entre o velho e o novo, em seu próprio lugar

Quando o Kraftwerk começou, a eletrônica era coisa acadêmica, ainda mais na Alemanha. Eles foram muito influenciados por Stockhausen, esse sim um verdadeiro pioneiro da eletrônica. O Kraftwerk tem o mérito de ter tornado a eletrônica mais digerível para as massas, ou seja, é responsável por sua popularização e, naturalmente, por seu desenvolvimento, mas não são tão pioneiros quanto muitos pensam. A sonoridade deles pode ser traçada dentro do contexto da música erudita, e tudo fica muito claro: fundiram a música eletrônica alemã "pura", bem estabelecida desde o início dos anos 50, com o minimalismo norte-americano, bastante em voga nos anos 60, surgido em resposta à complexa e matemática música serialista, utilizando-se porém de vocais da música pop. Desse modo catalizaram toda a subcultura eletrônica pop subsequente, colocando-se em uma posição singular inclassificável entre o erudito e o pop, sintetizando magistralmente, com humor e ironia, críticas sociais profundas e totalmente relevantes. Muito denso, e ao mesmo tempo estruturalmente simples.

Quanto ao show do Kraftwerk [domingo 21.03.09], deixou a desejar. Claro, ainda é Kraftwerk, e teve pontos brilhantes, como a inclusão da tradução em português de alguns versos de Showroom Dummies (Nós somos os manequins/Nós entramos no clube/e começamos a dançar). Mas, por alguma razão (crise de meia-idade de Ralf Hütter ou vontade de mostrar de serviço dos novos integrantes) quiseram "atualizar" algumas músicas. Radioactivity ficou parecendo poperô. Sem comentar as roupinhas retro-futuristas com luz roxa na cara. Kraftwerk não precisa disso. Afinal, já é lenda, por vários motivos, seja pela "postura irônica — sarcástica até — dos caras fazerem uma música dançante e ficarem completamente parados no palco, ou pelo fato de tocarem Autobahn — uma música cujo tema sugere movimento — e colocarem imagens paradas no telão. Sem falar nas referências mais óbvias à sociedade capitalista industrial em que vivemos e todas suas características de desumanização, anulação do homem, glorificação da tecnologia (tema recorrente nos filmes de Stanley Kubrick, especialmente o 2001: Uma odisséia no espaço) e à prevalência do elemento visual nos meios de comunicação. Kraftwerk é arte pura, no conceito que Marshall McLuhan dava ao termo. É inovador, vanguardista, genial, belo e contagiante. Se eles ficam brincando no computador, se são uns velhos excêntricos, se adolescentes lobotomizados e abobalhados pelo constante bombardeio midiático acham o show entediante — nada disso importa. Kraftwerk não tem que provar nada pra ninguém" [citação de Rinaldo Costa, de Goiás]. Por isso mesmo, Herr Hütter deveria partir para uma nova empreitada, composições mais sérias, carreira solo ou algo assim, e fechar o caso Kraftwerk.

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