Pois é, a forma de se consumir música mudou radicalmente nos últimos cem anos. Imagina como era a vida sonora antes da popularização das gravações (discos e fitas) e sistemas de som caseiros (isso sem falar do walkman, nos anos 80). Somente os sons da natureza, das conversas, enfim. Música mesmo só em algumas poucas apresentações, sejam formais ou informais. O próprio ambiente sonoro geral mudou muito com a industrialização e a urbanização --- a freqüência com que se ouvem automóveis, por exemplo, aumentou exponencialmente nesse período, em qualquer parte do globo.
Essa poluição sonora não é percebida pela maioria das pessoas, absortas na mídia e no pensamento massificado, e acaba comprometendo o sentido da audição. Além disso, gerou-se uma grande ansiedade para se estar sempre ouvindo algum som, e não só isso, para se estar sempre consumindo algum produto da indústria cultural em geral (por exemplo, criou-se uma dependência generalizada da televisão). As pessoas ficam então ansiosas por novos filmes, discos, etc. É como funciona a indústria, por meio do marketing e do fluxo incessante de novidades. Mais: o apetite dos aficionados os faz buscar ansiosamente novos sons, em pesquisas, explorando vorazmente a cultura, procurando alguma satisfação que nunca chegará. E esse processo vem se acelerando cada vez mais, e com isso intensificando a ansiedade: com a internet e a facilidade de se adquirir rapidamente arquivos sonoros, mais e mais pessoas vêm consumindo mais e mais música em quantidade, muitas vezes é certo refinando suas percepções por meio de comparações, mas sempre se quer MAIS.
Quando o cérebro é estimulado por algum efeito exterior, dispende certa energia, e com isso não relaxa. E nos momentos de silêncio esses estímulos continuam atuantes inconscientemente. Ações como assistir a um filme ou ouvir um disco geram uma falsa sensação de relaxamento: na verdade a atividade cerebral é grande.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário