11 novembro, 2008

A fronteira sem portões --- 1

1. O cachorro de Zhaozhou

Um monge perguntou ao venerável Zhaozhou, “Um cachorro também tem a natureza do Buda ou não?”. Zhou respondeu, “Não” [ou “nada”].

Wumen diz:

Para entrar no Chan [Zen], deve-se passar pela fronteira dos patriarcas. Para alcançar esse despertar maravilhoso é essencial cortar a sequência lógica da mente por completo.
Se não passar pela fronteira dos patriarcas, nem cortar a sequência lógica da mente, então será como um espírito de árvore apegado à grama.
Apenas diga, o que é a fronteira dos patriarcas? Simplesmente esta única palavra “não” [ou “nada”]. Ela é também a única fronteira do portão da escola. É por isso que é chamada de fronteira sem portões da escola Chan. Quem passar por ela não somente verá Zhaozhou face a face, como também convenientemente será digno de participar das sucessivas dinastias dos patriarcas, se juntando à mesma trilha; amarrando suas sobrancelhas às deles, verá com o mesmo e único olho, ouvirá com o mesmo e único ouvido. Como isso não poderia ser prontamente celebrado? Não é essencial passar por essa fronteira fundamental? Para fazê-lo, direcione suas 360 juntas do esqueleto e seus 84 mil poros da pele de seu corpo inteiro, removendo todas as dúvidas e suspeitas, para entrar nessa palavra “não” [ou “nada”]. Dia e noite, levante-a e rasgue-a. Não a compreenda como não-existência, não a compreenda como existência. É como engolir uma bola de ferro quente que tenta-se vomitar mas não sai. Lave e extinga o conhecimento iníquo e a consciência iníqua anteriores, há muito tempo praticados, e naturalmente interior e exterior se fundirão. Como um pedaço de sonho de uma pessoa muda, só a própria pessoa pode saber. Em silêncio, mostrará, e fará tremer o céu e a terra. Será como tomar a grande espada do general da fronteira, para começar. Ao encontrar o Buda, mate o Buda, ao encontrar os patriarcas, mate os patriarcas. No penhasco à beira do mar da vida e da morte, será absolutamente livre, e no meio dos seis caminhos e quatro nascimentos sua diversão será o samadhi[4].
Agora, como produzir esse levantar e rasgar? Esforce-se exaustivamente por toda a vida nessa palavra “não” [ou “nada”]. Se manter sem interrupção alguma isso será bom, e com uma faísca uma vela do Dharma acenderá.

A canção diz:

O cachorro, a natureza do Buda,
Menção completa, decreto direto.
Até vadear o fluxo da existência e não-existência,
Corpo morto, destino perdido.

[4] Samadhi é o estado de concentração plena da mente.

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