07 outubro, 2008

A fronteira sem portões da escola Chan

Este é o primeiro de uma série de posts que irá compreender todo o livro "A fronteira sem portões da escola Chan" (Chanzong Wumen Guan), uma coletânea de histórias curtas Zen chinesas feita por Wumen Huikai no século XIII. A presente versão foi feita com base em três traduções para o inglês, e atualmente estou procurando alguém para revisá-la comparando diretamente com o original chinês. Segue abaixo a introdução.







A fronteira sem portões da escola Chan[1]
Chanzong Wumen Guan
por Wumen Huikai (1183-1260)



Buda diz que a mente é a fundação de sua escola, e o não-portão é o portão do Dharma. Sendo que não há portão, como então se pode atravessar? Como não ver o Caminho? As coisas que entram pelo portão não são os tesouros da família. O que é obtido por alguma razão tem princípio e fim, e assim perecerá. Contudo, grandes ditos como este já parecem levantar ondas sem vento, e cortar a carne sadia. Aqueles que se atêm a palavras inertes estão agitando uma vara para atingir a Lua, roçando um sapato quando é o pé que coça. Que têm eles a ver com a realidade como ela é?
Eu, Huikai, no verão do primeiro ano da era Shaoding (1228 d.C.), era chefe da assembléia no templo Longxiang em Dongjia, e como requisitavam benefícios, procedia aos casos dos mestres ancestrais, fazendo telhas para bater nos portões e guiar os estudiosos livremente.
Isso foi concluído e o registro foi transcrito. O texto não foi organizado de acordo com qualquer esquema, não há ordem quanto ao início ou o fim. No total formaram 48 casos.
O texto foi chamado Wumen Guan, “A fronteira sem portões”.
Se for um homem que a despeito dos perigos vai direto ao ponto, então nem mesmo o Nezha de oito braços[2] poderá impedi-lo. Mesmo se os quatro setes do céu oeste e os dois três da terra leste vierem visitar pelo vento eles poderão apenas implorar por suas vidas.[3] Se talvez hesitar, será como uma pessoa que olha através da janela alguém passar cavalgando: em um piscar de olhos já terá ido embora.

A canção diz:

O Grande Caminho não tem portões,
Existem mil estradas diferentes.
Quem passa por essa fronteira,
Anda sozinho pelo céu e pela terra.



Notas:
[1] Chan é transliteração do sânscrito Dhyana e do páli Jhana, verbete comumente traduzido por absorção meditativa ou meditação profunda. É um aspecto ou tipo de meditação, e dá nome à escola budista mais tradicional e popular da China. O termo passou para o coreano como Soen e para o japonês como Zen.
[2] Nezha é o enfant terrible da mitologia chinesa, comumente apresentado como criança ou adolescente, raramente como adulto, voando sobre argolas de fogo nos pés. Quando necessário na batalha, Nezha pode instantaneamente fazer brotar seus oito (ou seis) braços e, como ele segura uma arma em cada, é conhecido por suas ferozes habilidades de luta.
[3] Os quatro setes do céu oeste são os 28 fundadores ancestrais do Dharma na Índia, e os dois três da terra leste são os seis patriarcas do Chan na China.

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