07 maio, 2009

pigarro

Sou a complicação do implante metálico corporal.
Sou o vazamento crítico da usina nuclear.
Sou o metabolismo em funcionamento constante alimentado pela rede de impulsos elétricos e estímulos sensoriais.
Sou a busca pela vida artificial, o espírito binário encarcerado nas telas luminosas.
Sou a fome da família revirando os montes do lixão.
Sou a obsessão do magnata imperialista com a boca cheia de comprimidos.
Sou o produto da agricultura extensiva industrializado empacotado nas prateleiras dos supermercados.
Sou a garganta ressequida e os olhos fundos avermelhados.
Sou os detritos acumulados no fundo do tanque do automóvel.
Sou o saco plástico abarrotado esmagado no caminhão de lixo.
Sou a liturgia sagrada, a erudição maléfica, a guerra entre as tribos e o poder da pólvora.
Sou o desejo sexual induzido pela imagem plana da celebridade, a fomentação e a frustração do sonho de consumo, a observação passiva da sociedade do espetáculo.
Sou o crime, o vício e a inclusão digital.
Sou a formação acadêmica em engenharia do caboclo na ponte sobre o rio poluído.
Sou a melancolia do jeca.

Um comentário:

victor disse...

muito bom