Ruas estreitas entupidas
Poeira nas ruas e avenidas
Casas e prédios baixos
Alguns prédios altos despontam
Estradas de terra levam ao campo
A zona rural abraça a cidade
As fábricas ladeiam a rodovia
Que corta a cidade em duas
Em presídios de segurança máxima
Detentos comandam o tráfico
Viciados com dentes podres infestam as ruas
Carroças andam no asfalto rachado
Caboclos com trocas de legumes e eletrônicos
Sobrevivem arrastando-se
Jovens aí crescem com referências midiáticas
De paisagens distantes da sociedade de consumo
O embate da imaginação influenciada
Pela indústria cultural eletrônica mundial
Com a realidade concreta da periferia capitalista
Nos escombros da aldeia gaiuaná
Gera uma manifestação bizarra conflitante e medonha
A recusa causa distorção
Falta nitidez nas ruas da cidade
É a realidade fora do ar
Condomínios fechados da média-alta
Copiam os subúrbios da classe média estadunidense
Com espaços entre as casas --
Na cidade as casas são pegadas lado a lado
Casas comerciais com fachadas pintadas a mão
Tornam visível no centro a pobreza contrastante
Com a opulência dos usurpadores d'além-mar --
A violência silenciosa sob o manto da tranquilidade
É o México ao fugir atravessando a fronteira
A África cruzando o Atlântico
A loucura do lado oculto da Lua
O mundo submarino do mergulhador equipado
A mata da serra respira no entorno
Os vira-latas e as formigas seguem alheios
O trem ainda passa algumas vezes ao dia
As igrejas e terreiros exortam os espíritos
O vento passa ao anoitecer
Os bancos das praças permanecem ruindo
As raízes crescem debaixo do pavimento
O esgoto flui pelos encanamentos
Estática a cidade continua perseguindo o progresso
A passos tortos e inconscientes
Os pés se movem apenas um certo tanto
Ainda sabem seu tempo descalço e lento
21 outubro, 2011
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2 comentários:
PUXA!! Acho que nunca havia lido antes um poema real e concreto a rspeito do lugar onde vivemos! Obrigado por compartilhar conosco!!
Achei linda, Saulo!
Mas tenho um comentário a fazer...
Nas sociedades aqui do norte-europeu a arquitetura é formada por
elementos de regra e estrutura governamental comunista,
onde o papel da policia era sim empregado apenas para seguranca, mas a politica de repressão é feita de cidadão por cidadão,
A arquitetura foi desenvolvida para que o tempo todo vc tem uma janela te olhando. Apartamentos são construidos lado a lado, com paredes finas e péssimo isolamento acústico,
para garantir que mesmo dentro de casa, você sempre terá medo de que alguém esteja ouvindo a sua intimidade.
Os conjuntos habitacionais são contruidos em quadrados, ao redor de um bloco do quarteirão,
para que todas as janelas do prédio possam ver o que todas as criancas estão fazendo no jardim comunitario (o que nesse caso, não acho que seja tão má idéia)
Tudo foi estabelecido previamente pelo governo: tamanho e cores das janelas, materiais da faxada dos prédios.
E nada pode ser modificado sem ser aceito previamente pela comunidade e a gestão dela.
A arquitetura dessa sociedade reprime a liberdade do individuo ao máximo.
O policiamento sobre os atos dos cidadãos é feito de maneira sutil e subliminar - e muito perigosa.
O governo deu as cordas e o povo se amarra diariamente, através de comentários e fofocas que julgam ser inocentes,
mas que na verdade, são ferramentas de repressão da liberdade de ser e de pensar, da liberdade de ir e vir.
Depois de viver 3 anos assim, não vejo a hora de voltar a morar numa casa, onde minha parede fica a pelo menos 5 metros do meu vizinho...
Boas cercas fazem bons vizinhos..... e não estamos falando apenas de seguranca nesse caso...
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