13 março, 2012

41. Dharma[1] tranquiliza a mente

Dharma estava sentado de frente para a parede. O segundo patriarca estava na neve, decepou o próprio braço, e disse, “A mente deste discípulo ainda não se aquietou. Imploro ao professor que tranquilize minha mente”. Ma disse, “Traga sua mente aqui e eu a tranquilizarei para você”. O patriarca disse, “Minha procura pela mente terminou, mas não posso obtê-la”. Ma disse, “Terminei de tranquilizar sua mente para você”.

Wumen diz:
O estrangeiro com vão nos dentes navegou dezenas de milhares de léguas até aqui para um propósito especial. Pode-se dizer que é como levantar ondas em tempo sem vento. Finalmente encontrou um homem particular do portão, mas lhe faltava uma raiz — um membro. Ora, Xiesanlang, o segundo patriarca, não sabia quatro palavras.

A canção diz:

Veio do oeste e com o dedo apontou diretamente,
Por causa desse assunto, começou a junção.
O barulho importuno dos monastérios,
A causa de chegar até aqui é você.

[1]Bodhidharma, patriarca da escola Chan.

09 março, 2012


Não se pode parar


A poesia pinta


E eu não posso pintar





Não se pode esperar


Mais um ponto aponta


E eu não posso aprontar





Não se pode emperrar


Nosso peito aperta


E eu não posso imperar





Nosso tempo, há tempos,


Ninguém pode parar

08 março, 2012

Sob o céu,

ninguém consegue enxergar
e ninguém consegue compreender
a circunstância da subtração.
Quando um homem superior domina a circunstância,
terá firmeza, apesar de dificuldade;
quando um homem inferior domina a circunstância,
terá então uma vida reduzida.

O céu e a terra, os dez mil seres e os homens individualmente estão, constante e interminavelmente, subtraindo energia uns dos outros, mas poucos são os que conseguem enxergar ou compreender essa circunstância. Por isso, o Taoísmo chama esse roubo de “subtração oculta”.

Quando a pessoa se empenha num determinado projeto de vida e obtém retorno pífio para a sua dedicação, raramente compreende que passou por uma circunstância de subtração no seu destino e foi furtada pelos dez mil seres em sua iniciativa. Essa falta de compreensão da circunstância da subtração deve-se à ignorância que impede o ser humano de enxergar os roubos que ocorrem permanentemente no mundo. Assim, a pessoa não consegue entender como sua energia foi subtraída, por que foi furtada e nem mesmo atinar para quem ou o que subtraiu sua força. O ser humano não consegue perceber como esses momentos acontecem, quando acontecem e por que acontecem. Mas quem compreende o ciclo torna-se capaz de trazer para a sua vida, dependendo de como aborda a oportunidade, tanto a boa fortuna quanto os infortúnios. Esse pode ser o Homem Superior ou o homem inferior.

O destino é feito de claridade e obscuridade, de ondas muito altas que chegam como tsunamis, ou chegam mais calmas e baixas, como se viessem acariciar a praia. Para tomar essas circunstâncias em seu benefício e transformá-las em boa fortuna, é preciso ser o Homem Superior. Este terá firmeza para enfrentar, com coragem, as dificuldades que se apresentem para ele em momentos cruciais da sua vida, ou no destino de uma coletividade.

Firmeza é a solidez que não abandona o Homem Superior, mesmo em momentos de adversidades. Nos momentos serenos, tanto quanto nos momentos de crise, ele consegue manter o equilíbrio emocional, o que lhe garante alcançar seus objetivos dentro de uma conduta de retidão. Por isso, o Homem Superior consegue tomar a circunstância ou destino do céu e da terra como seu próprio destino, apesar dos obstáculos e impedimentos que possa encontrar. De modo inverso, o homem inferior[1], por não possuir a retidão, quando reconhece com propriedade a circunstância, utiliza o ego para criar ele mesmo as oportunidades e dominar a situação em proveito de projetos pessoais. Quando isso acontece, o resultado que encontra é apenas o gasto excessivo de energia desperdiçada em função da sua engenhosidade e da ansiedade gerada pela expectativa do resultado. Essa energia esbanjada será levada, então, pela circunstância e terminará reduzindo a sua vida.

[1] Expressão utilizada nas mensagens do Yì Jīng. Representa a pessoa mesquinha, ignorante e sem retidão.

Wu Jyh Cherng, Yīng Fú Jīng: tratado sobre a união oculta: Huángdi, o Imperador Amarelo. Rio de Janeiro: Mauad, 2008