25 julho, 2008

Micro Revolução IV

Personagem: Xandinho
15 anos, acha o Bar do Alemão demais, quando não esta na função, esta "homenageando" Debora Seco, sua musa, no banheiro (único) de casa. Ja fumou merda e disse que ficou doidão, toma 51 com sukita e acha "gostoso" e acha que esse papo de cultura é coisa de bóy.
O que quer: Comer alguém.

Os índios dormem melhor

Os índios Guarani, da Aldeia Boa Vista, em Ubatuba (SP), possuem hábitos de sono mais saudáveis do que a população urbana. É o que a bióloga Daniela Wey concluiu em pesquisa para sua tese e doutorado em Neurociências e Comportamento, no Instituto de Psicologia (IP) da USP. Daniela, que acompanhou moradores com idades entre 18 e 81 anos, afirma que eles dormem em média nove horas por dia e que essa diferença se deve, em especial, à ausência de luz elétrica e à organização social diferenciada, sem horários rígidos de atividade. A psicóloga Fernanda Torres, integrante do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos (GMDRB) da USP pesquisou, na mesma aldeia, os hábitos de sono dos adolescentes. Concluiu que não há problemas de sono entre os jovens, mas há um atraso de aproximadamente uma hora nos horários de dormir e acordar, o que pode ser atribuído aos fatores recorrentes do seu desenvolvimento.

[Agência USP/Júlio Bernardes]

FONTE: Revista Ciência & Vida - Psique - #07

POSTADO POR GIBA CURUPIRA

EXTRAÍDO DE
http://ervadaninha.blogger.com.br/2006_10_01_archive.html#39142484

24 julho, 2008

De Jeca Tatu a Zé Brasil: a possível cura da raça brasileira


No Brasil, proliferaram almanaques de laboratórios, saídos das gráficas que imprimiam os rótulos dos medicamentos. Eram mais que um veículo de propaganda; estabeleceram-se como material de leitura. Afinal, mais que consumidores, buscavam leitores.

Neste universo, o Almanaque Biotônico Fontoura é, sem dúvida, o mais importante deles. Impulsionado pelo sucesso do folheto Jecatatuzinho, distribuído anteriormente pelas farmácias, o primeiro número saiu em 1920 elaborado e ilustrado por Monteiro Lobato, com uma tiragem de 50 mil exemplares. Durante muitíssimos anos, das décadas de 30 a 70, o número de exemplares impressos e difundidos do livro do autor de América oscilou entre dois e três milhões e meio. Desde a primeira edição até os anos 70, o Laboratório Fontoura recebeu diariamente uma média de 30 cartas de leitores interessados em seu almanaque.

As linhas literárias aliadas aos discursos das práticas raciais, medicalizantes e educativas do folheto cristalizaram-se e foram apropriadas pelos jornais, por outros folhetos e almanaques e também distribuídos nas escolas. Monteiro Lobato, o autor do Jeca Tatu do Almanaque Biotônico Fontoura, conseguiu capturar e produzir um amplo público infantil através da escola, onde ocorria não só a circulação do almanaque mas ainda de exemplares dos seus livros infantis.

Na virada do século, começava a se discutir no Brasil as teorias raciais e serão os “homens de sciência” da época, acreditando que os grupos inferiores impediam o rumo à civilização, os que irão empunhar bandeiras médicas, legais e literárias na cruzada pelo progresso do país, o qual obrigatoriamente passaria pelo aprimoramento dessa população que, segundo Gobineau, era totalmente mulata, viciada no sangue e no espírito e assustadoramente feia (Schwarcz, 1995).

É neste cenário que o papel formador da nova raça brasileira através do Jecatatuzinho do almanaque começa a ser esboçado em 1912 quando Monteiro Lobato, vivendo na fazenda recebida de herança do avô, toca no tema do piolho da terra. Convivendo com os empregados da fazenda, ele gesta esse piolho da terra. Porém, será em 1914, no jornal O Estado de São Paulo, que sairá publicado seu artigo de título “A velha praga”, denunciando o hábito pernicioso das queimadas das matas pelos caboclos. Assim aparece, no texto, o Jeca-Caboclo: “... A nossa montanha é vítima de um parasita, um piolho da terra, peculiar ao solo brasileiro... Este funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, semi-nômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela... não se liga à terra, como camponio europeu “agrega-se”, tal qual o “sarcopte [1] ... Chegam silenciosamente, ele e a “sarcopta” femea, esta com um filhote no utero, outro ao peito, outro de sete anos à ourela da saia – este já de pitinho na boca e faca à cinta. Completam o rancho um cachorro sarnento e ... O Nero: é um urumbeva [2] qualquer, de barba rala, amoitado num litro de terra litigiosa ... O caboclo é uma quantidade negativa ... ”
A repercussão do texto de Lobato é grande e o jornal se propõe a pagar por suas colaborações.

O próximo texto será “Urupês”, também publicado no jornal O Estado de São Paulo em 13 de dezembro de 1914, focalizando o Jeca, seu modo de vida, suas simpatias. O caboclo aparece como sombrio cogumelo, no pau podre e úmido, comparado aos campônios europeus. Com a modificação de algumas palavras, será o mesmo texto impresso posteriormente no livro Urupês, lançado em 1918.

Esboça-se nessa literatura de Lobato aquele que era preciso curar através da saúde e da instrução. Binômio que se estenderia mediante almanaques de farmácia em direção aos bancos escolares.

Era esse o caipira que o viajante Saint-Hilaire se referia em seu livro Viajem à Província de São Paulo: “…Esses homens embrutecidos pela ignorância, pela preguiça, pela falta de convivência com seus semelhantes, e, talvez, por excessos venéreos primários, não pensam: vegetam como árvores, como as ervas do campo” (Brandão apud Yatsuda, 1992).

O Jeca de Lobato passeia por todas as seções da imprensa, pelos acontecimentos esportivos, comentários políticos, cartazes de teatro e campanhas sanitaristas. O ápice do reconhecimento e popularidade do personagem dá-se na repercussão da Conferência de Ruy Barbosa, no Teatro Lírico, sobre a questão racial no Brasil, na qual o Orador assim iniciava a sua peça discursiva: “ - Conheceis por ventura o Jeca Tatu do “Urupês” de Monteiro Lobato, o admirável escriptor paulista? Tivestes, algum dia, ocasião de ver surgir, debaixo desse pincel de uma arte rara na sua rudeza, aquele typo de uma raça que “entre as formadoras de nossa nacionalidade” se perpetua a vegetar de cócoras, incapaz de evolução ou impenetrável ao progresso...” (Estadinho, 24/03/1919).

A incorporação do personagem no imaginário nacional ocorre, indiscutivelmente, por ocasião do enlace entre Cândido Fontoura e Monteiro Lobato. Ambos, expressivamente pioneiros na indústria de São Paulo. Um, no ramo farmacêutico, o outro, na atividade editorialística.

O personagem nascido da pena de Lobato para expressar a pobreza endêmica do país e as soluções propostas em termos de medicina social, sanitarismo, saneamento básico e reurbanização espelha no autor as idéias de Progresso e Civilização que marcavam as primeiras décadas do século XX no Brasil. A raça brasileira precisaria ser moldada e polida para trilhar tal caminho. O lema Saúde e Educação resumia o ideal civilizatório ancorado no trinômio ORDEM/ORGANIZAÇÃO/TRABALHO, cujos inimigos naturais seriam o estado de pobreza, a sujeira, o analfabetismo e a ignorância.

Como observou Corbin, a tarefa dos higienistas será a de separar o burguês desodorizado, do povo infecto (1987).

Seria necessário tirar o cheiro da terra e dos excrementos que acompanha o habitante do campo, limpando e arejando suas residências, organizando os espaços, regularizando relações, abrindo caminho da casa do camponês até a casa do futuro operário. Segundo Moléon, relator do Conselho de Salubridade de 1821, na França, um povo amigo da limpeza logo se tornaria amigo da ordem e da disciplina.

A educação passa a ser, na linguagem do médico brasileiro Miguel Couto, o evangelho da selva, com o seu elixir. A metáfora médica enxerga a sociedade brasileira como um corpo doente que precisa ser curado. A educação poderia e deveria aperfeiçoar a raça, higienizando, para não deixar vestígios de diferenças, tornando os corpos dóceis. O papel da elite intelectual do país seria trabalhar pela união, conduzindo o povo brasileiro a um ideal de coesão onde a preocupação com a diversidade significava a busca da harmonia (Rocha, 1995).

Os discursos medicalizantes, raciais e educativos do nosso autor interpenetram-se na tessitura dos seus escritos. O remédio da educação aparece no elixir Biotônico, indicado para consumo no universo escolar e para impedir o desgaste físico e mental, tendo como garoto-propaganda o Jeca Tatu.

Em folhetos, a história do Jecatatuzinho teve, na sua 35a edição, 84 milhões de exemplares, em 1982 alcançando 100 milhões. Aliada à tiragem de exemplares, astronômica para os padrões do país, há a gratuidade do material que se espalha de norte a sul.

Uma carta de Monteiro Lobato escrita para Godofredo Rangel em 7 de fevereiro de 1927 a respeito das enormes tiragens conseguidas pela associação da fórmula elixir-literatura, esclarece muito: “... E soltamos avalanche de papel sobre o público como se fosse uma droga de farmácia, um Biotônico. Anúncios, circulares, cartazes, o diabo. O público tonteia, sente-se asfixiado e engole tudo.”

Ao escrever De civilitate morum puerilium (Da civilidade em crianças), Erasmo de Rotterdam talvez não imaginasse o alcance de tal empreendimento. Discutindo o comportamento das pessoas em sociedade, aquele seu livro foi lançado em 1530 e teve, em seis anos, mais de 30 reedições, obtendo um total de mais de 130. O próprio pensador colaborara com a grande oficina tipográfica do humanista Johannes Frobem, o que certamente facilitara as edições de “folhetos” para a maior popularização, superando o seu Elogio da Loucura.

Elias nota que o processo civilizador gera manuais e cristaliza práticas a serem observadas (1990).

Três são os momentos do Jeca Tatu de Monteiro Lobato. Primeiro, em 1914, no artigo já citado “Velha Praga” aparece o caboclo vazio, adepto das queimadas. No texto “Jeca Tatu e a Ressurreição”, de 1920, ele tem possibilidade de cura mediante medicalização/instrução. E, afinal, em 1947, em “Zé Brasil”, converte-se num Jeca atualizado que discute as idéias de Carlos Prestes, líder de manifesta simpatia de Lobato; e no qual o latifúndio é apresentado como o maior mal, denunciado na figura do coronel Tatuíra, que nada planta. Este texto saiu em folheto, muito procurado, em edições clandestinas. A Editorial Calvino chegou a tirar uma edição de luxo, inclusive, ilustrada por Portinari.

O personagem de Monteiro Lobato é fluido tendo em vista que carrega consigo espaços que são preenchidos de forma diferenciada, de acordo com os vários momentos históricos do país.

Serão destacadas a seguir passagens do texto original do Jecatatuzinho com o intuito de explicitar momentos de uma problemática nacional, que afloram na intertextualidade, indicando as relações autor–obra-história.

éca Tatú era um pobre caboclo que morava no matto, numa casinha de palha. Vivia numa completa pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia e de vários filhinhos, pallidos e tristes.

Jéca Tatú passava os dias de cócoras, pitando uns enormes cigarrões de palha, sem animo de fazer coisa nenhuma.

Ia ao matto caçar, tirar palmitos, cortar cachos de brejaúva, mas não se lembrava de plantar um pé de couve atrás do seu casebre.

Perto corria um ribeirão, onde elle pescava de vez em quando uns lambarys e um ou outro bagre. Com isso lá ia vivendo.

Dava pena ver a miséria da sua casa.

Não havia nella nem móveis, nem roupas, nem nada que significasse commodidade. Um banquinho de tres pernas, umas peneiras furadas, uma espingardinha de carregar pela bocca, muito ordinaria, e só.

Todos que passavam por alli diziam ao vel-o:

Que grandessíssimo preguiçoso!

Tudo para elle não pagava a pena.....

A única coisa que pagava a pena era ir á venda comprar pinga e beber.

Por que você bebe, Jéca? diziam-lhe.

E elle respondia:

Bebo para esquecer.

Esquecer, quê?

Esquecer as desgraças da vida....

E os passantes murmuravam:

Além de vadio, bêbado......

A leitura sugere uma realidade causadora de repulsa. A mulher é feia, são incontáveis os filhos. O Jeca tem vícios, fuma e bebe, o que poderia causar a degeneração racial tão temida. A descrição da casa com absoluta falta de comodidade aponta para um local sem individualidades preservadas.

Tais prescrições acima focalizam não só as doenças, mas também o modo de vida, o cigarro, a bebida, a sexualidade, a fecundidade e as limitações do seu habitat.

Ao lado delle morava um italiano que já estava ficando rico. O homem trabalhava o dia inteiro e seu sítio era uma belleza.

Por que não fazia Jéca o mesmo?

Quando lhe perguntavam isso, Jéca dizia:

Não paga a pena plantar. A formiga come tudo...

Mas como é que o seu vizinho italiano não tem formiga no sítio?

É que elle mata.

Lobato compara a raça brasileira aos estrangeiros imigrantes, e ela aparece inerte, incapaz e modorrenta...

Um dia passou lá um doutor e, como ameaçasse chuva, o homem resolveu abrigar-se na casa do Jéca. Pediu liçença, emtrou e abriu a bocca diante da miséria da casa.

Depois, prestando attenção no Jéca, e vendo como era pállido e magro, resolveu examinal-o.

Esse doutor era um médico muito estudioso e intelligente. Tinha escrito vários livros e vivia a falar de hygiene.

Acabado o exame, o doutor disse:

Amigo Jéca, sabe você que o que você tem é doença?

Mas Jéca não podia acreditar numa cousa: que os taes bichinhos entrassem pelo pé. Elle era positivo e dos taes que só vendo.

O doutor resolveu abrirlhe os olhos de uma vez.

Levou-o a um lugar humido,atrás da casa e disse-lhe:

Tire a botina e ande um pouco por ahi.

Jéca obedeceu.

Agora venha cá. Sente-se. Bote o pé em cima do joelho. Isso. E agora examine a pele com esta lente.

Jéca tomou a lente das mãos do doutor, olhou e percebeu vários vermes pequeninos que já estavam penetrando na sua pelle, através dos poros.

O pobre homem arregalou os olhos assombrado.

E não é que é mesmo? Quem “havéra” de dizer!....

Pois é isso, sêo Jéca, e daqui por deante não duvide mais do que disser a sciencia.

Nunca mais! Deus me livre! Daqui pra deante dona Sciencia está dizendo, Jéca está jurando em cima! T’esconjuro!......

Redentor de um mundo “ignorante”, o saber científico aparece na figura daquele que dele é investido, o médico. Estudioso, inteligente, escritor de diversos livros. Aquele que busca, através da razão, conhecer a doença, mostrar os seus sintomas, apontando remédios e condutas higiênicas. Só ele pode espantar as crendices e as simpatias que povoam o universo do caboclo.

Essa identificação com a questão médica é tão forte que Monteiro Lobato, em carta a Godofredo Rangel, datada de 8 de julho de 1918, escreve: “... A mim me favoreceu muito aquela campanha pró-saneamento que fiz pelo Estado. Popularizou-se a marca “Monteiro Lobato”. O público imagina-me um médico sabidíssimo, e a semana passada tive um chamado telefônico, altas horas da noite. -É o Doutor Monteiro Lobato? -Sim. -Doutor, minha mulher está sentindo dores. Poderá vir atendê-la? Meu primeiro ímpeto foi ir e puxar para fora o filho daquele sujeito e depois contar na rodinha o caso. Mas a respeitabilidade venceu. -Não sou médico parteiro, meu caro senhor. -Queira desculpar. Eu pensei que...”

Quanto à instrução propriamente dita, o mesmo Lobato assim se refere no jornal Estadinho de 16 de junho de 1919: “... Pobre Geca Tatu! A tua vida é como a vida da coruja. É como a vida do curiango: não enxergas, por assim dizer, com os raios do sol; és cego dos esplendores do mundo: és cego às belezas da terra! Falta-te Geca, um pouco de luz no intelecto, falta-te uma scentelha de INSTRUÇÃO... e dahi a causa da tua tristeza e da tua dor, e dahi a causa da tua nenhuma açção, nenhuma energia nenhum animo, nenhuma vida! E hás de ser semppre assim Geca. Frio, insensível, desalentado, abatido, enquanto não te derem, com abundancia, o necessario pão para o teu espírito, o indispensável alimento para o teu cérebro!”

É muito forte a crença de Lobato na educação e na higiene como meios reorganizadores da sociedade. Em sua literatura, o restante da história é por demais conhecido: o Jeca fica curado, rico, aprende inglês, faz do italiano o feitor de sua fazenda. Embrenha-se pelo interior do país a calçar e a medicar pessoas e afinal morre, dizendo as palavras: “Como é suave a morte de quem cumpre o seu dever até o fim!” “Além dos heróis construídos a partir das qualidades positivas, há aqueles construídos com base em qualidades negativas, como o caso do Jeca Tatu” ( Barbosa, 1994).

E assim o personagem Jeca entra para a história brasileira, tendo um capítulo à parte no livro do nosso processo civilizatório.

“Menino! Nunca te esqueças desta história; e, quando fores homem, trata de imitar o Jeca. Se fores fazendeiro como teu pae, trata de curar teus camaradas. Além de lhes fazeres um grande benefício, farás para ti um alto negócio. Verás que o trabalho dessa gente produzirá três vezes mais e te enriquecerá muito mais depressa.”

Monteiro Lobato viria à público desculpar-se do “typo” que criara, mas não conseguira redimir a criatura que não convence quando supera suas mazelas.

O Jeca circulou e ainda circula na sociedade brasileira através do imaginário social. Andou e anda por aí, livremente a mostrar uma marginalidade que se nos apresenta incorporada, consciente ou inconscientemente...

Notas

* O argumento do presente texto já foi por mim apresentado no livro História e Leituras de Almanaques no Brasil; Editora Mercado de Letras. Fapesp/ Associação de Leitura do Brasil, Campinas, 1999.

[1] Sarcopte: parasita.

[2] Urumbeva ou urumbeba: sujeito crédulo, fácil de ser logrado.

Escrito por Margareth Brandini Park

Estudos Sociedade e Agricultura, 13, outubro 1999: 143-150.

Margareth Brandini Park é professora do programa de pós-graduação em Ciências e Práticas Educativas-Unifran/SP e pesquisadora do Centro de Memória-Unicamp.

23 julho, 2008

micro-revolução

Personagem: Jéca Roleiro
Estende sua toalha de lona na calçada do mercadão, dispõe seus artigos eletrônicos de segunda e terceira, acocora-se e bate os rolos. No meio da tarde recolhe o material, toma uma(s) dose(s) no bar e volta para casa, a mulher e a televisão.
O que quer: ganhar na mega-sena e comprar uma televisão de plasma.

Personagem: Maria Gasolina
Patricinha-wannabe, freqüenta postos de gasolina e o Mutley Music Bar. Anota na agenda os nomes dos carros dos jécas com quem fica nas baladinhas. Gosta de fazer compras como terapia.
O que quer: casar com um hómi rico.

22 julho, 2008

micro-revolução

personagem: ricardinho

17 anos. frequenta cursinho. diz que quer fazer medicina. mora em jecatown, num condomínio de alto padrão. viciado em crack. jogava bola todos os domingos. mas hoje tem um playstation 3 em casa q toma seu tempo. e invade construções no centro e vagões na linha do trem com seus amigos menos privilegiados do bairro Agua quente.
o que ele quer: "ganhar na mega sena" e pedra pra fumar.

21 julho, 2008

Re: O Micro, A Revolução e Os Personagens

Personagem: Fantasma de Índio.
Enterrado na Independência (antigo Bairro das Caveiras), na Jécatown, ainda perambula pelas redondezas. Sua morte foi matada, pelo chumbo de um capanga de algum fazendeiro do começo do século passado.
O que quer: descansar em paz.

Lykke Li "I'm Good, I'm Gone"

Cantora Integrante de mais uma nova-safra sueca que chega esse ano listada ao lado de promessas nórdicas. O timbre infantil da cantora pode ser imediatamente associado à Sally Shapiro e Annie, mas Lykke não é feita para as pistas pois a loirinha tem complexidade indie o suficiente para disputar espaço entre bandas de indie mais conceituadas, como Peter, Bjorn & John. Num país em que toda a população é quase do tamanho de Londres, mas a cena musical é tão prolífica e relevante quanto a britânica, Lykke não queima a largada e desperta simpatia e expectativa em todos que ouvem sua música. (descrição da www.last.fm)

20 julho, 2008

O Micro, A Revolução e Os Personagens

7 passos para o 1º passo

1. Preâmbulo Expresso
O domingo é um bom dia para, entre outros pensamentos, desenhar o futuro.
Conforme o tempo passa, parece que fica mais nítido que o futuro é como a água batendo na bunda.

2. Uma idéia Simples
Mesmo com a urgência do futuro, o domingo também revela que sempre é tempo de se fazer. O Auto-fazer e o saber-ser.
No estalo da simplicidade, uma idéia, um engenho de humanidade propõe o inusitado dialeto: o micro (a milésima parte do que se é) e a revolução (Ato ou efeito de revolver - o que estava sereno).
O sujeito (eu, você, ele e nós) é o responsável pela ação do transformar. E também da inércia.

3. O Plano
Pensar, teorizar e praticar a micro-revolução, identificando seus ramos e suas aplicações na rede social.

4. Metodologia
Criação de personagens ambientados e projetados para instigar autor e leitor a construir pensamentos.

5. Lista de Presença
Manoela Groh
Henrique Recife
e vc?

6. Requisição de Inscrição
a) Querer pensar e somar sobre a revolução do eu para a construção do nosso de forma justa, ética, humana e evolutiva.
b) Sugerir a criação de personagens centrais para o desenvolvimento da teoria.
c) Escolher um personagem.
d) Desenvolver reflexões do ponto de vista do personagem, através do Jecabit.
e) Curtir o processo!

7. Esboço dos personagens
a) Profeta
Fica para o Henrique pensar e dizer...


b) Cético Questionador
Quem sabe o Saulo se interesse por este? É uma sugestão.

c) Jovem Aprendiz
- quem é: uma jovem sonhadora, certa de que há uma razão para a existência, e que um dos caminhos mais eficazes e corretos para o entendimento é o aprendizado.
- o que pretende: aprender e empreender a micro-revolução.




~ ... ~

Venha pensar e fazer a micro-revolução.
Você muda o mundo quando mudar a si.

Onde quer chegar se não sabe quem se é?

~ ... ~

19 julho, 2008

ultra cotidiano urbano


jardel dice:

o q vc faria se realmente tivesse numa prisão?
Vitório dice:

treparia com os bofes demais

jardel dice:

hahaha

Vitório dice:

e desenharia na parede

Vitório dice:

riscaria, escreveria na parede

Vitório dice:

acho sempre interessante coisas q os presos fazem

jardel dice:

sim sim

jardel dice:

por sinal bem q eu deveria ir numa prisão daqui ne

jardel dice:

vou v com quem falo pra rolar esse canal

Vitório dice:

pra que?

jardel dice:

bater umas fotos

Vitório dice:

né?

Vitório dice:

demais

jardel dice:

ai cara mas tenho medo tirarem onda com a minha cara? imagina?

jardel dice:

ou nao ne?

jardel dice:

acho q desenrrolo numa boa

Vitório dice:

hj um porra dum mendigo me chamou de alemao

Vitório dice:

tive muita raiva

Vitório dice:

e medo tb

Vitório dice:

tinham umas dona com uma faixa de uma loja de oculos tapando a faixa de pedestre

Vitório dice:

aí eu disse q ela nao podia ficar ali tapando a faixa, pras duas

Vitório dice:

ai ela disse, vc quer q eu fique onde? va reclamar pra loja!

Vitório dice:

aí eu disse, eu reclamo pra vc q vc q ta aqui!

Vitório dice:

e o mendigo começou a gritar: ta cego, alemão!! ta cego??

Vitório dice:

e um bocado daqueles caras da rua com ele

jardel dice:

vaalha

Vitório dice:

imagina..

Vitório dice:

=/

jardel dice:

cara! a rapha passou por uma situação ultra cotidiano urbano...hha...uns caras assaltaram a pague menos e passaram com tudo pela parada de bus q ela tava..saiu correndo e quando virou ja vinham mais 2 armados numa carreira!

jardel dice:

kkkkk

jardel dice:

trauma total

jardel dice:

sim mas eaí tu fez o q?

Vitório dice:

saí andando pela ponte, olhando pra trás discretamente pra ver se os bosta nao tavam me seguindo..

15 julho, 2008

JSS. De volta as festas mensais.


Depois de um ano sem local fixo para festejar, desde a falência do Casarão das Artes, e dois anos depois da criação do coletivo, o Jecatron Sound System descolou uma nova goma para se instalar. Todos os primeiros sábados do mês, a partir do dia 2 de agosto, jecaboys e jecagirls estão convidados a festejar e fazer ferver o Boteco do Charles.

A entrada é gratuita. O couver não é obrigatório. A cerveja é gelada. E o som é de primeira.
Coisa rara em Jecatown. Aproveitem! E espalhem a notícia.

Aviso aos visitantes

Na Jécatown, festa é festival, bar e palco pra show ao vivo é pista, solo de violão é banda e dj set é sound system. Apreciem a paisagem, divirtam-se com moderação e voltem sempre.

ZERØ ZERØ 0.6 - festival independente


10 julho, 2008

Hoje à noite na Jécatown

TAUBATÉ: CAMINHOS DA HISTÓRIA, PARADA OBRIGATÓRIA - Abertura do Projeto

SESC Taubaté

Dia 10/07
Quinta, a partir das 19h30.

Às 19h30, haverá a apresentação da Banda Santa Cecília, de Taubaté e a participação do Clube dos Autos Antigos de Taubaté (CAT). Às 20h30, haverá um show musical reunindo Paranga, Noel Andrade, Cantautores e Baque do Vale. Local: Circo Maior.

GRÁTIS

Manifesto Futurista (1909)

por Filippo Tommaso Marinetti

1. Nós pretendemos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e a intrepidez.

2. Coragem, audácia, e revolta serão elementos essenciais da nossa poesia.

3. Desde então a literatura exaltou uma imobilidade pesarosa, êxtase e sono. Nós pretendemos exaltar a ação agressiva, uma insônia febril, o progresso do corredor, o salto mortal, o soco e tapa.

4. Nós afirmamos que a magnificiência do mundo foi enriquecida por uma nova beleza: a beleza da velocidade. Um carro de corrida cuja capota é adornada com grandes canos, como serpentes de respirações explosivas de um carro bravejante que parece correr na metralha é mais bonito do que a Vitória da Samotrácia.

5. Nós queremos cantar hinos ao homem e à roda, que arremessa a lança de seu espírito sobre a Terra, ao longo de sua órbita.

6. O poeta deve esgotar a si mesmo com ardor, esplendor, e generosidade, para expandir o fervor entusiástico dos elementos primordiais.

7. Exceto na luta, não há beleza. Nenhum trabalho sem um caráter agressivo pode ser uma obra de arte. Poesia deve ser concebida como um ataque violento em forças desconhecidas, para reduzir e serem prostadas perante o homem.

8. Nós estamos no último promontório dos séculos!... Porque nós deveríamos olhar para trás, quando o que queremos é atravessar as portas misteriosas do Impossível? Tempo e Espaço morreram ontem. Nós já vivemos no absoluto, porque nós criamos a velocidade, eterna, onipresente.

9. Nós glorificaremos a guerra - a única higiene militar, patriotismo, o gesto destrutivo daqueles que trazem a liberdade, idéias pelas quais vale a pena morrer, e o escarnecer da mulher.

10. Nós destruiremos os museus, bibliotecas, academias de todo tipo, lutaremos contra o moralismo, feminismo, toda covardice oportunista ou utilitária.

11. Nós cantaremos as grandes multidões excitadas pelo trabalho, pelo prazer, e pelo tumulto; nós cantaremos a canção das marés de revolução, multicoloridas e polifônicas nas modernas capitais; nós cantaremos o vibrante fervor noturno de arsenais e estaleiros em chamas com violentas luas elétricas; estações de trem cobiçosas que devoram serpentes emplumadas de fumaça; fábricas pendem em nuvens por linhas tortas de suas fumaças; pontes que transpõem rios, como ginastas gigantes, lampejando no sol com um brilho de facas; navios a vapor aventureiros que fungam o horizonte; locomotivas de peito largo cujas rodas atravessam os trilhos como o casco de enormes cavalos de aço freados por tubulações; e o vôo macio de aviões cujos propulsores tagarelam no vento como faixas e parecem aplaudir como um público entusiasmado.

relembrando...


Futurismo
O futurismo foi um movimento artístico e literário instituído com a publicação do Manifesto Futurista do poeta italiano Filippo Tomasso Marinetti, no ano de 1909. Os principais sinais do futurismo eram o movimento, a velocidade, a vida moderna, a violência e a ruptura com a arte do passado, já que os adeptos do movimento rejeitavam o moralismo, o passado. Os primeiros futuristas europeus também engrandeciam a guerra e a violência. O movimento tem o estilo de expressar o movimento real, assinalando a velocidade exposta pelas figuras em movimento no espaço. O futurismo influenciou diversos artistas no Brasil que depois fundaram outros movimentos modernistas, como Oswald de Andrade e Anita Malfatti, que tiveram contato com o Manifesto Futurista em viagens à Europa, em 1912.

Fonte:Mundo Educação

07 julho, 2008

jecatron ss em julho >>>

- dia 08 de julho no Buteco Charles em Taubaté, as 21h, entrada gratuita.

- dia 09 de julho na praça da rodoviaria velha jecatron ataca novamente no coreto da praça em jecatown, as 16h dessa vez contando com a participação do dj kabelo.

- dia 19 de julho, em pindamonhangaba, jecatron e george soundsystem atacam no bar alçapão as 22h.

beat it!

05 julho, 2008

dandy warhol no brasil

Dono do hit "Bohemian Like You", o grupo americano Dandy Warhols está escalado para o festival Indie Rock, que acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo. Serão quatro bandas internacionais: Dandy Warhols, Late of the Pier (banda nova inglesa cujo disco de estréia foi produzido pelo Erol Alkan; ouça a ótima "Bathroom Gurgle") e outras duas a serem definidas (o Vampire Weekend, que estava nos planos, não vem mais). E quatro bandas nacionais: Mombojó, Macaco Bong e outras duas a definir.

Nas duas cidades, as bandas serão divididas em dois dias. O Indie Rock acontece nos dias 28 e 29 de agosto no Canecão, no Rio; e nos dias 29 e 30 de agosto no Citibank Hall, em São Paulo.


Nesse ano que passou, um dos hypes da mídia foi o Dandy Warhols, uma estranha banda glam cheia de referências aos anos 80 com um vocalista performático e estiloso chamado Courtney Taylor-Taylor. Mas, apesar das aparências, essa não é apenas uma bandinha de final de semana, inventada por uma revista especializada qualquer, e sim uma banda com 10 anos, três discos e toda uma história por trás. E esse lado anos 80 é apenas uma das diversas facetas da banda, que explora desde o folk caipirão até os experimentalismos de Jason Pierce no Spaceman 3, passando pela pseudo-intelectualidade urbana, pelo grunge, pelo punk rock, pelo David Bowie... é, referência não é o que falta para os Warhols.

Tudo começou em Portland, cidade próxima de Seattle, em 1993, início do declínio da cultura grunge. Pete Holmstrom, guitarrista, passava o tempo todo importunando seu amigo de longa data Courtney Taylor, ex-baterista e também vocalista e guitarrista, para formar uma banda. Quando foi finalmente convencido a entrar na brincadeira, Courtney chamou seu conhecido Eric Hedford para assumir as baquetas e uma menina chamada Zia McCabe, que trabalhava em um café na cidade e não sabia tocar absolutamente nada na época, para assumir o baixo e os teclados. Estava formado o Andy Warhol’s Wet Dream que, sabiamente, teve seu nome mudado para The Dandy Warhols em pouquíssimo tempo.

Em 94, a banda já era razoavelmente conhecida na cidade, e seus shows eram bem concorridos. Era um bom clima para o lançamento da primeira fita demo, com o bizarro título “The Instruction And Incidentals Of Automobile Handling In Four”. Tanto as apresentações da banda quanto a fita encantaram Thor Lindsay, proprietário do selo independente local Tim/Kerr, que chamou os Warhols para fazer parte de seu elenco. A banda aceitou a proposta e, ainda em 94, foi lançado o primeiro single comercial da banda, um cover de “Little Drummer Boy”. O trabalho dividiu o público: alguns acharam-no uma obra-prima, outros, puro lixo pretensioso. Nesse mesmo ano, começaram as gravações para o que seria o primeiro LP da banda, “Dandys Rule, OK!”




á pensacidade das coisas...


04 julho, 2008

A impermanência

A impermanência mostra a sua face o tempo todo. Por que lutamos para escondê-la? Por que perpetuamos o mito da permanência se com isso alimentamos o círculo do sofrimento? Experiências, amigos, relacionamentos, bens, conhecimentos --- trabalhamos tão arduamente para nos convencer de que eles vão durar. Quando um copo quebra ou nos esquecemos de algo, ou quando alguém morre ou as estações mudam, nós nos surpreendemos. Não podemos acreditar completamente que acabou. Esse sabor agridoce marca nossa vida. O filme termina, nosso relacionamento chega ao fim, as crianças crescem. A impermanência sempre bate à nossa porta.

É claro que o reconhecimento da impermanência não traz a permanência. Significa que estamos mais sintonizados com a realidade; podemos relaxar. Quando abrimos mão do apego à permanência, nossa dor começa a diminuir, porque já não vivemos mais no engano. Ao aceitar a impermanência, gastamos menos energia resistindo à realidade.

O sofrimento adquire uma qualidade mais direta. Já não estamos tentando evitá-lo. Entendemos que a impermanência é um rio que corre ao longo da vida, não uma pedra no meio do caminho. Vemos que, por causa de nossa resistência à impermanência, a dor e o sofrimento são constantes. Compreendemos que a dor começa com o desejo de permanência.

A contemplação ajuda-nos a entender verdades profundas que raramente levamos em conta, apesar de estabelecermos nossa vida sobre elas. Contemplamos essas verdades a fim de produzir uma mudança em nossa compreensão da realidade, no modo como percebemos a vida. Quando, durante uma sessão de meditação, mantemos a mente nas palavras: "Tudo é impermanente", seu significado começa a ficar claro. Quando vislumbramos o que é a impermanência, conservamos a mente nessa compreensão. Assim nos familiarizamos com uma verdade simples em que geralmente nem mesmo reparamos. Começamos a viver a vida com uma compreensão mais profunda.

Sakyong Miphan (trad. provável Carolina Castilho)
jazildo