24 junho, 2008

A sombra da massa

A sombra da massa constitui-se das pessoas que a sociedade em geral recusa-se a encarar: presos, criminosos, loucos, delinqüentes, drogados, alcoólatras, mendigos, etc: párias sociais ou marginais, em suma. Do mesmo modo que sentimentos escondidos de si próprio podem emergir no corpo na forma de uma doença chamada psicossomática, essa parcela da sociedade pode apresentar sintomas no quadro social geral de forma atemorizante para a população que se baseia no status quo vigente e orientada, em um nível mais grosseiro e superficial, pela mídia. E isso gera uma reação de auto-encarceramento e isolamento, similar ao processo histórico de feudalização. Há que se encarar a sombra para prosseguir adiante, mas esse é um processo doloroso e difícil, pelo qual as pessoas de modo geral não estão dispostas a passar. E isso é também verdadeiro no nível individual que, talvez por influência do pensamento contemporâneo desta era mais individualista que a história já viu, parece ser o único âmbito possível e pertinente de ação.

20 junho, 2008

Trabalho e aposentadoria: tópicos interessantes e essenciais

Desde que comecei a trabalhar sempre me perguntei: "Quando é que essa incrível perda de tempo essencial de vida vai terminar? Porque exercer um ofício? Por prazer? Quantas pessoas no mundo tem um ofício por prazer? 20%, 10%? Será que o prazer que elas tem em se dedicar a este ofício não nasce da falta de conhecimento /experiência em se dedicar a um ócio criativo ou ao simples exercício de viver? Trabalho como caminho ou filosofia de vida? Honra? Trabalho para consumir? Para obedecer aos apelos desesperados do horário comercial pelo seu dinheiro? A tecla sap diria: ME DÁ, ME DÁ, ME DÁ!!".Ainda não consigo uma resposta verdadeira para tudo isso, mas uma coisa eu tenho certeza: aguardar o governo para poder me livrar desse compromisso desprovido de objetivo e ter uma aposentadoria miserável, passando a minha terceira idade mais miseravelmente ainda, contando os centavos para conseguir comprar um remédio que o sistema de saúde do próprio governo é incapaz de bancar, COM CERTEZA ABSOLUTA que não. Se eu pudesse abdicar da previdência social e receber todos os descontos de impostos relativos em dinheiro, já o teria feito a tempos. A falta de opção por abdicar desse processo fraudulento chamado previdência social é algo que realmente não condiz nada com esse papinho ridículo de democracia.

Conforme artigo recebido alguns dias atrás:

"Na civilização greco-romana, o homem comum não tinha ocupação, ofício, profissão. Trabalho era sinônimo de degradação, tortura, era atividade para os escravos"
(...) a idéia do mesmo "lazer", hoje, vem acoplada a uma certa obrigação. "Você tira férias e se sente na obrigação de viajar, de ter muito dinheiro para pagar um belo hotel, consumir belos produtos" (...). "Tudo nos é imposto pela propaganda".

Revoltz básico a parte, um site interessante. Nada muito hardcore ou que demande um PhD em economia e filosofia:

http://dinheirama.com/blog/category/aposentadoria/

O negócio é fugir da senzala e montar um quilombo.

Boa diversão a todos,

Bruno Barreto

16 junho, 2008

diálogo

o conceito é a relação regional/global saca!
tamo aqui mas tamo antenado
a filosofia é o resgate da cidade como suporte de interação artística
acho q tem que pensar pra frente
questionar a própria civilização
um ponto fundamental é o resgate da cultura e dos mitos indígenas
verdade
boa
e encarar a cidade como um painel a ser pintado
reurbanização atraves do efêmero e da estética
e no âmbito regional/global firmar a posição local como emissor
sim sim
mas baseado em informações sólidas
fazendo as pessoas enxergarem como funciona o sistema e o questionarem
desenvolvendo a lógica e o pensamento crítico
mas pra atingir a massa só pelo efêmero e pela estética mesmo

Estudiosa defende a preguiça como estratégia de resistência

São Paulo, 16 de Junho de 2008 - Scarlett Marton, conceituada professora de Filosofia Contemporânea da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), concedeu, na semana passada, uma palestra polêmica sobre workaholics. Além de apresentar as possíveis razões para este fenômeno, trouxe à tona uma visão nada convencional sobre o tema.

Disse que o homem contemporâneo precisa retomar a preguiça, como estratégia de resistência. "A atual compulsão por trabalho criou pessoas sem consciência da própria existência. E isso não é saudável, nem no ambiente corporativo, nem no lar, de maneira geral. Isso atrapalha o trabalho em si", diz Scarlett.

Para chegar a este pensamento, a filósofa recorreu à história do trabalho. "Na civilização greco-romana, o homem comum não tinha ocupação, ofício, profissão. Trabalho era sinônimo de degradação, tortura, era atividade para os escravos", diz. Ela conta que só no século XIII, o trabalho ganhou um certo status entre as sociedades européias, graças às atividades manuais exercidas nos monastérios. "E o reconhecimento como valor social se dá apenas no Renascimento, no século XVII. Nesse período é que é visto como elemento que aprimora, desenvolve o homem. A idéia de lazer vai ser então ser desenvolvida somente na década de 30 do século XX, com as férias remuneradas", afirma.

Em suas pesquisas, ela conta que a idéia do mesmo "lazer", hoje, vem acoplada a uma certa obrigação. "Você tira férias e se sente na obrigação de viajar, de ter muito dinheiro para pagar um belo hotel, consumir belos produtos", comenta. "Tudo nos é imposto pela propaganda".

E esta noção de diversão, conforme a professora, teria se intensificado há 30 anos, quando apareceram os workaholics. "O evento do trabalhador compulsivo é muito recente. O homem moderno não se dá conta de que o ócio concede mais consciência sobre nossa própria condição humana. É preciso exercitá-lo". Mas como exercer o ócio em uma sociedade que tanto nos cobra? "É preciso ter espírito crítico quanto às nossas atividades cotidianas, prestar atenção se nossos desejos são verdadeiros, ou fabricados e padronizados pela publicidade", critica.

Se a teoria é bem articulada, o certo é que não é tão simples colocá-la em prática. A opinião é do dentista Oscar Razuk, que criou uma teoria de otimização de tempo ao perceber que 72% de seus clientes, a maioria formada por executivos, abandona os tratamentos dentários simplesmente por que são workaholics. "São pessoas que se preocupam muito com o trabalho e que se esquecem da própria vida. No meu caso, dentista que sou, tento mostrar que a saúde bucal pode aumentar a expectativa de vida de uma pessoa em até quatro anos. Muitos alegam, porém, que não têm tempo para acabar o tratamento, pois perderiam tempo e isso quer dizer perder dinheiro. Acabei então por pensar em palestras que abordam justamente a importância de se perceber que a saúde interessa mais do que o trabalho ou o dinheiro", conta.

Cidinha De Conti, diretora da empresa de marketing Conti Ações Integradas está com sete ações diferentes nesta semana. Trabalha, em média, dez horas por dia, em ritmo frenético. Não se considera workaholic, mas admite: "meus amigos dizem que a primeira característica de um workaholic é a negação de que faz parte deste grupo", diverte-se.

Em cada evento que faz, cabe a ela criar, organizar e coordenar equipes, definir programas e logísticas. "Minha profissão exige muitos detalhamentos. Para que as ações dêem certo, é preciso que eu me entregue completamente. Assim, tenho que estar à disposição do trabalho em tempo permanente", afirma. Ela acredita que a definição workaholic acaba se anulando, se a pessoa tem prazer em seu trabalho. "No meu caso, trabalho é uma fonte de prazer. Posso trabalhar aos sábados, domingos, seguidamente, que isso não vai me incomodar", finaliza.

(Gazeta Mercantil - Alexandre Staut)

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divulg

Lançamento da Fusão

Chega a São Paulo neste sábado(21) a Fusão, uma publicação independente editada em Recife desde 2005. Concebida por um coletivo de artistas, a revista-zine utiliza o código urbano representado pela estética dos zines para documentar e disseminar experimentações da forma imagética. Para tanto diversas linguagens são ‘fundidas’: quadrinhos, artes visuais, poesias, textos.
Mais de 100 pessoas participaram das edições durante esses 4 anos, o que revelou novos talentos, e que propiciou a fundação da primeira editora de zines do país, a Livrinho de Papel Finíssimo.
Considerado o principal fanzine de Pernambuco pelo jornal Diário de Pernambuco, a 19ª edição (pois começa no numero 0) da Fusão será pela primeira vez lançada na cidade de São Paulo na livraria HQ Mix. O lançamento contará com a presença da apresentação dos Sound System Georges (São Paulo) e Jecatrom (Taubaté).
Nesta edição : HKE..., Clara, Moa, Kelly, Jarbas, Rodrigo Rodrigues e Greg.

SERVIÇO:
O que: Lançamento da 18ª Fusão com os Sound System Georges e Jecatron.
Onde: Livraria HQMIX, Praça Roosivelt, 142, Centro
Quando: 21/06/2008, ás 19:30 até o último visitante

15 junho, 2008

Precisa-se

Artistas visuais para projetos variados (exposições e trabalhos in site). Fotógrafos, pintores, artistas digitais, videomakers, favor comparecer ao Núcleo de Intervenção Urbana, às terças-feiras a partir das 19h no Departamento de Arquitetura da UNITAU, Jécatown. Possibilidades de patrocínio e espaço para divulgação de trabalho. Também são bem-vindas pessoas que queiram conhecer o projeto e/ou contribuir com idéias. Falar com Felipe Rezende (Ifi!) (msn ifiarq@hotmail.com), http://www.coletivomatuto.blogspot.com/.

14 junho, 2008

(des)proporção

A Praça Dom Epaminondas e a Av. Desembargador estão para a Jécatown assim como a Praça da Sé e a Av. do Estado estão, respectivamente, para a cidade de São Paulo.

13 junho, 2008

este fim de semana no Hocus Pocus (SJC)

DIA: 13/06/08 - (SEXTA-FEIRA)


ARRAIÁ DO ROCK


Uma grande festa com muito rock e música eletrônica, além de comidas típicas, quadrilha com traje obrigatório, isso mesmo, todos de caipirinhas!


HORÁRIO: 22H

ENTRADA:
Mulher com nome na lista é na faixa e homem R$ 7,00 na lista de unissonancia@hotmail.com
Na hora e sem lista, mulher é R$ 5,00 e homem R$10,00.
-----------------------------------
DIA: 14/06/08 - (SÁBADO)


COM AS BANDAS:

LEELA

THE VAIN

IMPAR

HORÁRIO: 22H

ENTRADA:
R$ 10,00 - Com nome na lista - (Envie seu nome completo para hocuspocus.studiocafe@gmail.com).
R$ 15,00 - Sem nome na lista

Se preferir garanta seu ingresso antecipado por R$ 10,00 com as Bandas The Vain e Impar.
-----------------------------------
DIA: 15/06/08 - (DOMINGO)

COM AS BANDAS:

MADAME MACHADO

CLARENCE FULL DEAD

ESTER

IROSINA

HORÁRIO: 17H

ENTRADA:
R$ 5,00 - COM NOME NA LISTA (Envie um e-mail com o nome completo para unissonância@hotmail.com)
R$ 8,00 - NA HORA

-----------------------------------

ESTUDIO DE GRAVAÇÕES DE ÁUDIO - ENSAIO - BAR - CASA DE SHOWS

ENDEREÇO:
Rua Paraibuna, nº 838
(Atrás da UNESP, entrada pela lateral, Rua Maria Francisca Froes)
Jd. São Dimas - São José dos Campos - SP - CEP: 12245-021

TEL: (xx12) 3923-7525

ORKUT:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=406784

FLOG:
http://www.fotolog.com/hocuspocus838/16199493

E-MAIL:
hocuspocus.studiocafe@gmail.com

Pedimos às bandas que queiram tocar aqui, que nos enviem o material por correio ou para que nos entreguem o material pessoalmente.

dance dance dance drop an acid dance

deceptacon - le tigre

04 junho, 2008

CAIPIRA HOJE (re-post, originalmente postado em 6/AGO/2006)

por Hermano Vianna

Fela, mestre-de-cerimônias-multimídias do Mercado
do Peixe, diz que fui eu que inventei o nome
pós-caipira para designar o movimento que ele me
anunciava. Nem me lembro ao certo o contexto de
tal invenção: era certamente uma brincadeira. Mas
como a brincadeira colou, e ficou séria, tenho
agora a missão de sair correndo atrás do prejuízo
(prejuízo bom esse!), e criar o embasamento
"teórico" necessário para tudo fique bem claro.
Vou também levar a brincadeira a sério (minha
maneira de seriedade...), tentando tirar dela as
conseqüências politico-culturais mais interessantes.

Que interesse pode ter se usar a palavra caipira
- mesmo com o prefixo pós - hoje? Pensando nisso,
resolvi voltar aos clássicos, àqueles livros que
definiram os caipiras como grupo cultural na
sociedade brasileira. Comecei pelos textos de
Monteiro Lobato que criaram o personagem Jeca
Tatu. Nunca tinha lido esses textos, talvez por
pudor, talvez por achar que ia me deparar com
lado mais careta e reacionário de Monteiro
Lobato, um lado que gostaria de esquecer e fingir que não existia.

Preferia guardar na memória as minhas lembranças
de infância, da época em que lia sua coleção
infantil sem parar. Monteiro Lobato me ensinou a
gostar do Brasil, de um determinado Brasil que
até hoje traduz os aspectos mais interessantes
que descubro e defendo em nossa cultura. Acho até
que fiz o Música do Brasil por causa dele, dessas
leituras. Entendo os problemas, ou o que existe
de problemático em sua obra. Por exemplo: seu
anti-modernismo; ou a caricatura de cultura
afro-brasileira representada por Tia Nastácia
(apesar de Tia Nastácia ter me levado a admirar a
cultura afro-brasileira); entre muitos outros
aspectos que considero equivocados ou ingênuos.
Mas, pelas informações que tinha sobre Jeca Tatu,
custava a acreditar que um cara tão inteligente
quanto Monteiro Lobato, que gostava tanto da
cultura popular brasileira, teria podido criar
uma imagem tão simplista do (na verdade um
furioso ataque contra o) caipira, que naquela
época ele ainda chamava de caboclo.

Fui direto ao texto. De início encanta o estilo:
deve ter sido um susto na redação do Estado de
São Paulo, quando o texto chegou como carta no
final de 1914: quem é esse cara que vive no
interior e escreve tão bem, com tanta
mordacidade? Concordando ou não com o que é dito
ali, não podemos deixar de achar o texto uma delícia.

Mas hoje não dá pra levar a argumentação do texto
à sério. Fazer uma crítica rigorosa é uma tarefa
quase ridícula (mesmo se quisermos elogiar o que
existe de interessante nas entrelinhas, como um
proto-ecologismo ou um combate ao conservadorismo
ou coronelismo político que ainda hoje domina
grande parte de nossas relações sociais
interioranas). Vou aqui fazer um outro exercício,
talvez - para o gosto de muitos leitores - bem
amalucado: quero inverter alguns argumentos de
Monteiro Lobato, enxergando qualidades naquilo
que para ele só podia ser defeito.

Vou tratar o Jeca Tatu como herói, pelos mesmos
motivos que na visão de Monteiro Lobato ele era
uma praga ou um motivo de vergonha
nacional. Vamos à sua descrição, com citações
tiradas dos textos do criador do Sítio do Picapau
Amarelo: o caipira seria "espécie de homem
baldio, seminômade, inadaptável à civilização,
mas que vive à beira dela na penumbra das zonas
fronteiriças." E mais: "recua para não
adaptar-se." Ou então: "existe a vegetar de
cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao
progresso." Eis aí, naquilo que Monteiro Lobato
enxergava como vício, todos os traços de um herói
contracultural (ainda mais hoje, quando falar bem do ócio voltou à moda).

É claro: se achamos, como muita gente continuar a
achar, que a chegada da "civilização", ou a
adaptação à "civilização" (por si só um conceito
duvidoso: afinal, o que é ser civilizado? há só
uma maneira de civilizar-se?) é um bem
indiscutível, temos que condenar o Jeca Tatu. Mas
se duvidarmos da bondade ou das boas-intenções da
"civilização"? Não devemos celebrar o homem
inadaptado, que recua e não abraça sorridente o
"progresso", que desconfia do "civilizado" e por
isso prefere viver "na penumbra das zonas fronteiriças"?

Fico tentado em pensar essas sombrias zonas
fronteiriças criadas/habitadas pelos caipiras
como exemplos daquilo que Hakim Bey chama de
zonas autônomas temporárias, ou TAZ (do inglês
Temporary Autonomous Zone). Mas fico ainda mais
tentado a pensar o caipira como um nômade
anti-capitalista, como aqueles descritos na
filosofia de Gilles Deleuze. Encontrei este texto
numa conferência que Deleuze fez sobre Nietzsche
intitulada Pensamento Nômade: "é verdade que, no
centro, as comunidades rurais estão presas e
fixadas pela máquina burocrática do déspota, com
seus escribas, seus padres, seus funcionários;
mas na periferia, as comunidades entram num outro
tipo de aventura, num outro tipo de unidade dessa
vez nomádica, numa máquina de guerra nômade, e se
descodificam no lugar de se deixar
sobrecodificar." Parece a descrição das
comunidades caipiras segundo Monteiro Lobato. Com
uma diferença importantíssima: Deleuze gosta dos nômades. Eu também gosto.

Então, mesmo o silêncio do caipira, mesmo a
aparente facilidade com que o caipira deixa se
manipular pelas forças governistas, pode ser
pensado como uma estratégia para se manter à
parte, nunca chamando a atenção. Esse silêncio
seria uma determinação de nunca compactuar, e
sempre fugir (fingindo estar sendo "tocado") -
parece a maioria silenciosa de Jean Baudrillard,
que se recusando à participar acaba destruindo os
fundamentos da representação política... Essa é
uma estratégia político-cultural
sofisticadíssima. Como revela, sem perceber a
radicalidade da estratégia, o próprio Monteiro
Lobato: "E agora? Que fazer processá-lo [o
caipira]? Não há recurso legal contra ele. A
única pena possível, barata, fácil e já
estabelecida como praxe, é 'tocá-lo'." Como se
toca um cachorro. Mas aí quem toca está fazendo
justamente o que o caipira quer: sair dali,
desaparecer sem compactuar, sem se tornar um
empregado obediente ou "civilizado".

Monteiro Lobato diz: "o caboclo é uma quantidade
negativa." Isso é lindo. Resume tudo. E poderia
se tornar um lema para o movimento pós-caipira:
radicalizar a negatividade: sumir quando correr
perigo de se deixar aprisionar por um estilo; ser
como a Natascha Kinsky no filme No Fundo do
Coração: cuspe na chapa quente, que desaparece
sem deixar vestígio: como os índios, que não
tinham "história", que muita gente acha que são
menores por não terem deixado documentos ou
monumentos; eles eram mais espertos, e não
andavam por aí carregando o peso de bibliotecas e
museus. Volto a citar Monteiro Lobato: "um ano
que passe e só este [o sapezeiro] atestará sua
[do caipira] estada ali; o mais se apaga como por
encanto." Não fica "nada que seja revelador de
permanência." Pelo contrário: os caipiras, como
os índios das terras baixas sul-americanas (sem o
Estado dos Incas), eram os mestres da impermanência.

Estamos reaprendendo, com a tecnologia digital, a
fazer essa mágica: o "apagar por encanto" que é o
"esquecimento como força ativa", para voltar a
citar o Nietzsche de Deleuze. Pensei nisso ao
redescobrir uma entrevista de 1981 - quase
esquecida - com Ralf Hutter, do Kraftwerk. A
banda vai para o estúdio todos os dias. Mas grava
pouquíssimo. Ele dizia na entrevista: "Fitas são
históricas. No momento em que você termina a
gravação, elas se tornam históri-cas. Você
termina com um excesso de história. Nós tentamos
esquecer muito da música que tocamos." E
complementa: "Nós somos as Brigadas Vermelhas da
música. Penso que temos um ponto de vista muito
determinado. Nós achamos que o mundo da música é
muito ori-entado para a história, para as
gravações. Nós queremos projetar uma atividade mais anár-quica."

O Kraftwerk e as máquinas nos ensinam a esquecer
e apagar, a viver o momento do remix e não querer
guardá-lo para sempre (ninguém tem espaço nem
interesse para armazenar tanta coisa!) Até porque
o mundo já está transbordando de coisas,
documentos e monumentos. Por que essa compulsão
de guardar tudo? Não é melhor ficar "de cócoras",
aproveitando a impermanência de tudo (o mais
legal é remixar, é ver todo mundo remixando, e
não comprar o disco dos remixes).

Começando a concluir: caipirando o uso das
máquinas, não corremos o risco apontado por
Antonio Candido, aquele do "saudosismo
transfigurador" ou de "uma verdadeira utopia
retrospectiva", que pensa o tempo "dos antigo"
como o tempo da fartura, e lamenta o presente. Um
verdadeiro pós-caipira (anti o
caipira-estilizado-de-festa-junina, festa sempre
nostálgica do antigo, do que já passou - mas isso
não quer dizer que o estilo junino não seja
útil... ou mesmo o sertanejo-hiperpop de Sandy &
Junior... tudo é radicalmente reciclável...)
aproveita radicalmente o presente, sem se
preocupar com o registro do que está vivendo.
Todo o resto, como diria o Jeca Tatu de Monteiro
Lobato, "não paga a pena." Porque não paga mesmo!

Presente? O que é o presente para um pós-caipira?
O presente pode ser uma maneira de se perder no
tempo, como disse Gilberto Gil: "jeca total deve
ser jeca tatu... um tempo perdido... interessante
a maneira do tempo... ter perdição quer dizer, se
perder no correr, decorrer da história". Esse
presente, assim pensado e vivido, não é
certamente o fim da história, mas a história
vivida sem a ilusão da evolução totalitária. Cada
pós-caipira tem seu próprio tempo, e sua maneira
- acocoradamente correta - de estar no tempo.
Lição: o tempo do mangue-beat: nada nostálgico da
pureza perdida do maracatu; e por isso o maracatu
está mais vivo do que nunca. Hoje. O mangue-beat
nos ensinou a botar fogo na cultura local,
afrociberdelificando-a. É preciso agora
jeco-centrificar o afrociberdelificado. Para
fazer coro com o Jeca Tatu de Monteiro Lobato: "Eta fogo bonito!"

03 junho, 2008

01 junho, 2008

.... be careful!!!! I SAID "BE CAREFUL!!!!!"

ATENÇÃO!!!! ATENÇÃO!!!! MUITA ATENÇÃO!!!!
Se algum de vocês já entraram em contato ou apenas avistaram este ser perambulando pelas avenidas de Jecatown, extremo cuidado....
até agora, não temos informações conclusivas a respeito de sua origem ou aspirações.
o relatório completo será divulgado no dia 03/06... não vacilem... isto é sério!!!
Ah........ mais uma coisa...... ele atende pelo nome de Wando!